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Cláudio Manoel da Costa


Poesia:


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Conto:


Fortuna crítica:


Alguma notícia do autor:

 

 

 

 

Ticiano, Magdalena

 

Franz Xavier Winterhalter, retrato de Roza Potocka

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Vale or Farewell, ARTHUR HACKER (RA), (1858 - 1919)

 

 

 

 

 

Cláudio Manoel da Costa


 

Biografia


Um dos poetas brasileiros mais importantes do período colonial, e também um dos lançadores do arcadismo no Brasil em 1768, Cláudio Manoel da Costa nasceu em Vargem do Itacolomi, perto da cidade de Mariana, em 1729.

Estudou em Vila Rica e no Rio de Janeiro. Depois seguiu para Coimbra, onde cursou a Faculdade de Direito Canônico.

Voltando para o Brasil em 1753, foi, entre outras coisas, nomeado secretário do governo da capitania pelo conde de Bobadela em 1762. Em 1768, fundou uma academia literária no palácio do governo, que foi batizada de Arcádia Ultramarina.

Tornou-se juiz das demarcações das sesmarias de Vila Rica até 1773, quando adotou o nome árcade Glauceste Satúrnio como pseudônimo. Envolveu-se na Conjuração Mineira, foi preso em 1789 por reunir os conjurados da Inconfidência Mineira, e encontrado morto em sua cela na Prisão da Casa de Contos após ter delatado seus companheiros.
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Vale or Farewell, ARTHUR HACKER (RA), (1858 - 1919)

 

 

 

 

 

Cláudio Manoel da Costa


 

Temei, Penhas...


Destes penhascos fez a natureza
O berço em que nasci: oh! quem cuidara
Que entre penhas tão duras se criara
Uma alma terna, um peito sem dureza!

Amor, que vence os tigres, por empresa
Tomou logo render-me; ele declara
Contra meu coração guerra tão rara
Que não me foi bastante a fortaleza.

Por mais que eu mesmo conhecesse o dano
A que dava ocasião minha brandura,
Nunca pude fugir ao cego engano;

Vós que ostentais a condição mais dura,
Temei, penhas, temei: que Amor tirano
Onde há mais resistência mais se apura.
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Vale or Farewell, ARTHUR HACKER (RA), (1858 - 1919)

 

 

 

 

 

Cláudio Manoel da Costa


 

Soneto


Estes os olhos são da minha amada,
Que belos, que gentis e que formosos!
Não são para os mortais tão preciosos
Os doces frutos da estação dourada.

Por eles a alegria derramada
Tornam-se os campos de, prazer gostosos.
Em zéfiros suaves e mimosos
Toda esta região se vê banhada.

Vinde olhos belos, vinde, e enfim trazendo
Do rosto do meu bem as prendas belas,
Dai alívio ao mal que estou gemendo.

Mas ah! delírio meu que me atropelas!
Os olhos que eu cuidei que estava vendo,
Eram (quem crera tal!) duas estrelas.
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Vale or Farewell, ARTHUR HACKER (RA), (1858 - 1919)

 

 

 

 

 

Cláudio Manoel da Costa


 

Sonetos

VI

Brandas ribeiras, quanto estou contente
De ver-vos outra vez, se isto é verdade!
Quanto me alegra ouvir a suavidade,
Com que Fílis entoa a voz cadente!

Os rebanhos, o gado, o campo, a gente,
Tudo me está causando novidade:
Oh! como é certo que a cruel saudade
Faz tudo, do que foi, mui diferente!

Recebi (eu vos peço) um desgraçado,
Que andou até agora por incerto giro,
Correndo sempre atrás do seu cuidado:

Este pranto, estes ais com que respiro,
Podendo comover o vosso agrado,
Façam digno de vós o meu suspiro.

VII

Onde estou? Este sítio desconheço:
Quem fez tão diferente aquele prado?
Tudo outra natureza tem tomado
E em contemplá-lo, tímido, esmoreço.

Uma fonte aqui houve; eu não me esqueço
De estar a ela um dia reclinado;
Ali em vale um monte está mudado:
Quanto pode dos anos o progresso!

Árvores aqui vi tão florescentes,
Que faziam perpétua a primavera:
Nem troncos vejo agora decadentes.

Eu me engano: a região esta não era;
Mas que venho a estranhar, se estão presentes
Meus males, com que tudo degenera!

XIV

Quem deixa o trato pastoril, amado,
Pela ingrata, civil correspondência,
Ou desconhece o rosto da violência,
Ou do retiro a paz não tem provado.

Que bem é ver nos campos, trasladado
No gênio do Pastor, o da inocência!
E que mal é no trato, e na aparência
Ver sempre o cortesão dissimulado!

Ali respira Amor sinceridade;
Aqui sempre a traição seu rosto encobre;
Um só trata a mentira, outro a verdade.

Ali não há fortuna que soçobre;
Aqui quanto se observa é variedade:
Oh! ventura do rico! oh! bem do pobre!

LXXII

Já rompe, Nise, a matutina Aurora
O negro manto, com que a noite escura,
Sufocando do Sol a face pura,
Tinha escondido a face brilhadora.

Que alegre, que suave, que sonora
Aquela fontezinha aqui murmura!
E nestes campos cheios de verdura
Que avultado o prazer tanto melhora!

Só minha alma em fatal melancolia,
Por te não poder ver, Nise adorada,
Não sabe inda que coisa é alegria;

XCVIII

Destes penhascos fez a natureza
O berço em que nasci: oh! quem cuidara
Que entre penhas tão duras se criara
Uma alma terna, um peito sem dureza!

Amor, que vence os tigres, por empresa
Tomou logo render-me; ele declara
Contra o meu coração guerra tão rara,
Que não me foi bastante a fortaleza.

Por mais que eu mesmo conhecesse o dano,
A que dava ocasião minha brandura,
Nunca pude fugir ao cego engano:

Vós, que ostentais a condição mais dura,
Temei, penhas, temeis, que Amor tirano,
Onde há mais resistência, mais se apura.
 

 

 

 

 

 

 

29/07/2005