Cleise Mendes


A Poesia no Teatro

Bocas, buchichos, bilhetes, o beijo, o banzo, o batuque, bispos, beatos, blasfêmias, as conversas cavernosas, cavando caos e castigo, cartas cárceres carrascos, cruzes, quilombos, capoeira, denúncias, depoimentos, devassas e desventuras, a danação do degredo. E a liberdade tecendo o fio de sua renda: navegar é preciso que se aprenda. Filetes deferimentos, ferros, feitores, fidalgos, (afã de fazer feitiço!) garras, garrotes, gadanhos, galhofas e galicismos, o gosto das gargalhadas, o gozo, o guizo, a gandaia, a justiça justaposta, gerando jeito, jeitinho e gente jeremiando. E a liberdade tecendo o fio de sua renda: navegar é preciso que se aprenda. Lágrimas lavam as leis e as legiões de lacaios, os livros em labaredas, a luz, o lume, a legenda, iluminismos letais... masmorras, mortes, miséria, meirinhos, maçons, muzenza, o Nordeste, a novembrada, novidades e novenas, Napoleão e novelas. E a liberdade tecendo o fio de sua renda: navegar é preciso que se aprenda. Os póstumos patriotas, padres, peões, parasitas, os poderes paralelos, réus, rebeldes renitentes, raças, revoltas, revides, o real e a realeza, os sambas e as assembléias, selos, sigilos, segredos, a sedição e seus sonhos, o sangue e o suor descendo. E a liberdade tecendo o fio de sua renda: navegar é preciso que se aprenda. Traidores e titulares, o trono, a taxa, o tributo, o tronco, a tortura, a tropa, velas, vasos e vitrais, os vassalos e os valentes, (a vida à vazar das veias) o xodó e o xingamento, zona, zunzum, zombaria, o zumbir da zurzidela, zoeiras, zangas e zelos. E a liberdade tecendo o fio de sua renda: navegar é preciso que se aprenda.

* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * *