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Corsino Fortes
Uma língua
é o lugar
donde se vê
o mundo
Vergílio Ferreira
Vozes 
Poéticas da 
Lusofonia
Na minha língua...
cada verso é uma
outra geografia.
Manuel Alegre

 

VOZES POÉTICAS DA LUSOFONIA 
Edição: Câmara Municipal de Sintra
                     Presidente: Dra. Edite Estrela
Organização: Instituto Camões 
Coordenação: Alice Brás 
                     Armandina Maia 
Seleção de textos: Luís Carlos Patraquim 
Capa: LPM — Idéias e Acções 
Realização gráfica: Gráfica Europam, Ltda. 
Mem Martins – Portugal 
Depósito legal: 138134/99 
Maio, 1999
Patrocinada pela
CAIXA GERAL DE DEPÓSITOS
 
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Corsino Fortes


 ILHA
 
 

Sol & semente: raiz & relâmpago
Tambor de som
Que floresce
A cabeça calva de Deus.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

 

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Corsino Fortes


DE BOCA CONCÊNTRICA NA RODA DO SOL
 
 

Depois da hora zero E da mensagem povo no tambor da ilha
Todas as coisas ficaram públicas na boca da república
As rochas gritaram árvores no peito das crianças
O sangue perto das raízes E a seiva não longe do coração
 

E


Os homens que nasceram da Estrela da manhã
Assim foram
Árvore & Tambor pela alvorada
Plantar no lábio da tua porta
África
mais uma espiga mais um livro mais uma roda

Que



Do coração da revolta
A Pátria que nasce
Toda a semente é fraternidade que sangue

 

A espingarda que atinge o topo da colina
De cavilha & coronha
partida partidas
E dobra a espinha
como enxada entre duas ilha
E fuma vigilante
o seu cachimbo de paz
Não é um mutilado de guerra
É raiz & esfera no seu tempo & modo
De pouca semente E muita luta


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Corsino Fortes
HOJE CHOVIA A CHUVA QUE NÃO CHOVE
a)

Quando a África incha seus músculos de sangue & secura
Não há Sahel que não queime
No coração da noite
A sua salina de solidão

*

Não há boca Que não chova a sua gora de corpo & alma
Nem gota
De água doce Que não seja
Um espaço! para amar & habitar

b)

Por vezes! o relâmpago
Escreve coisas vivas na boca do arquipélago

*

E as ilhas soerguem-se
pelo arquipélago das patas
E vão

 

De cratera em cratera
Erguer
na boca das sementes
A força contida dos vulcões

c)

Homem! deus é grande entre duas ilhas
Se baleias emergem da gota do teu rosto
 
 

Na Ilha! a cicatriz de deus é grande
Mas a ferida do homem é maior

*

Canção! no arbusto da viola

*

Que chove
A lírica de deus é grande
Mas a música do homem é maior

k)

Mulher! quando o céu da tua boca
Arrasta o corpo da terra
Até à goela da água longínqua
A febre conta no arco-íris
Da carne que sangra
A montanha roída dos dentes...

E da cicatriz da mão
brotam raízes
Que vicejam a memória dos séculos




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