Carlos Eduardo da Rocha


Retrato da Mulher Amada

I Os longos cabelos dourados derramados até os ombros frágeis Um manto perfumado emoldurando o rosto singular de mulher e de menina. Madeixas separadas deixando Entrever no colo ofegante A curva harmoniosa dos seios pequeninos. II O pescoço esguio como a haste da flor que é a sua face. O queixo fino estremece ao desabrochar do sorriso Nos lábios de pétalas entreabertos, separados Na alvura dos dentes arrumados como sementes da romã madura e perfumada. III O pequeno nariz arrebitado cheio de graça aspira Na brisa vespertina o cheiro do jasmin adocicado O brilho dos seus olhos é como estrelas lucilantes E a fronte delicada se esconde Nos caracoes pendentes dos seus longos cabelos IV Os seus braços envolventes recobertos de suave penugem macia como a relva E ao toque mais sutil arrepiada. Entrelaçados aos meus num terno abraço aconchegados ao peito por breve instante Sentíamos ofegantes o bater descompassado dos nossos corações. V Nos reencontros marcados com os beijos na face um de cada lado Como se fossem amigos emocionados apenas e nunca enamorados Para sempre em todo o tempo fluindo em nosso fado. VI Somente as mãos são dadas de repente na procura constante Agarradas por entrelaçados dedos em permanentes cariciais, apertados e frementes. Beijadas subitamente nas incontáveis despedidas e tristes separações. VII Ansiosamente esperada a volta do dia a dia nas saudades doloridas De ausências prolongadas nos caminhos diversos de nossos desencontros Prisioneiros de graves compromissos E inconformados fiéis de um só destino. VIII Os meneios da cintura num ritmo pausado em desfile permanente. As vestes marcando as formas surpreendentes da saia curta ajustada. Livres as coxas longas sinal maior de beleza caminho sem fim a perpassar na pele iluminada. IX Na placidez do ventre a sugestão de frutos Praia rasa de areia molhada inconsistente Água clara transparente deixando ver na concha Entreaberta A pérola rosada do pingo umbelical completando o fascínio. X Dos joelhos concentrados às belas pernas E a ponta dos pés pequenos Pisando leves quase a flutuar a cada passo dado Na dança do seu andar de suave movimentos como peixes no mar XI A visão das costas da nuca desprotegida nos cabelos levantadas pelas espadas nuas sombras e suaves relevos são revelados ao tato nas pontas dos dedos captantes de múltipla sensualidade. XII As linhas curvas mais expressivas com suas maiores riquezas... A cintura as alegrias dos quadris equilibrados E a completa formosura na harmonia de tão preciosos lados celebrados.


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