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Página atualizada em 22.09.1999
  
Chico Calda
calda@ronet.com.br

Página inicial de Chico Calda 
CERAPIOCERÁ 
ELBA FORRÓ E PAIXÃO 
NATIVO 
NORDESTE: SECA E POLÍTICA 
JÁ, SEU MOÇO? 
NORDESTE: PROBLEMA E SOLUÇÃO 
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Chico Calda
calda@ronet.com.br

CERAPIOCERÁ
Entre Piauí e Ceará  
(Terezina e Fortaleza)  
Uma prova esportiva  
Integra-se à natureza  

Sempre no mês de janeiro  
Por brenhas e cafundós  
Num ano é PIOCERÁ  
No outro CERAPIÓ  

Partindo do Piauí  
Partindo do Ceará  
Quero é ter emoção  
Ver poeira levantar  

E nos pontos de parada  
À noite dançar forró  
Vamos pro PIOCERÁ  
Vamos pro CERAPIÓ  

Vencendo serra e areia  
Pedregulho e atoleiro  
Conferindo trecho e tempo  
Para chegar em primeiro  

Cumprindo todo o percurso  
Com navegador ou só  
Faça o PIOCERÁ  
Faça o CERAPIÓ  


     



  
 

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Chico Calda
calda@ronet.com.br
  
ELBA FORRÓ E PAIXÃO 
 Elba, flor da Paraíba  
Que não murcha ou perde a cor  
Elba que ao poeta inspira  
Por quem o peito suspira  
Elba sorriso, Elba amor  

Sol primeiro do Oriente  
Que a América ilumina  
Rainha da Borborema  
Mulata, ruiva, morena  
Mulher com ar de menina  

Voz que em todas as ondas  
No infinito azul se expande  
Sensual, meiga, brejeira  
É ela a voz brasileira  
Deusa de Campina Grande  

Elba, brisa matutina  
Do litoral ao sertão  
Do Brejo e do Teixeira  
Do agreste, da ribeira  
Cabo Branco a Conceição  

Elba, semente viçosa  
Do vale do Piancó  
Orquídea paraibana  
Teu corpo perfume emana  
Com o cheiro bom de forró  

Cheiro que se faz sentir  
No frevo, xote e baião  
No arrasta-pé que cantas  
Animando a multidão  
Levando-a ao paraíso  
Por isso eu te batizo  
Elba Forró e Paixão  
  



  
 

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Chico Calda
calda@ronet.com.br

  
NATIVO 
Minha casa é sob o Sol  
Sob o céu, sob o luar  
Durmo na cama do vento  
Que canta e me faz ninar  

Nas asas do pensamento  
Chego a qualquer lugar  
Navego com qualquer tempo  
Não temo a fúria do mar  

Não tenho nada de meu  
De coisas materiais  
Mas tenho o verde dos campos  
Dos vales, dos matagais  

Sou livre como o condor  
Que voa na imensidão  
Mas não tira a liberdade  
Do vôo de seu irmão  

Não tenho mágoa nos olhos  
Nem ódio no coração  
Eu tenho a felicidade  
Que não se tem na cidade  
Sou nativo do sertão   
  



  
 

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Chico Calda
calda@ronet.com.br

 NORDESTE: SECA E POLÍTICA 
Eu nasci na Paraíba  
Alto sertão nordestino  
Desde os tempos de menino  
Luto pra sobreviver  
Já vi a morte nos olhos  
Já vi a fome de perto  
Por isso conto de certo  
Que vi criança morrer  
E à beira da sepultura  
Dessa infeliz criatura  
Como em ano de ventura  
Eu vi fortuna crescer  

Eu vi coronel vistoso  
Em ano de eleição  
Falar para a multidão  
Vamos salvar o Nordeste  
Se o meu partido ganhar  
Vamos fazer açudagem  
Fazer cacimba e barragem  
No semi-árido e no agreste  
O pobre acredita em tudo  
Chega calado e sai mudo  
E o coronel barrigudo  
Conserva a fome e a peste  

Formam grupos de estudos  
Para estudar a questão  
Já sabem de antemão  
Qual será o resultado:  
Ninguém sequer vai olhar  
Nas Câmaras Municipais  
Assembléias Estaduais  
Na Câmara e no Senado  
Mas precisa providência  
E o Governo por clemência  
Cria a frente de emergência  
Pro nordestino arrasado  

Tudo que é paliativo  
Nunca pode ser perfeito  
Tem que falar com o Prefeito  
Quem quiser se alistar  
Começa a politicagem:  
- Só te arranjo o serviço  
Diante do compromisso  
Que comigo vais votar  
- Votar no mesmo partido  
Que o Nordeste tem mantido  
Como um Brasil esquecido  
Mas precisa trabalhar  

E o ciclo continua  
A cada nova estiagem  
Sem açude e sem barragem  
Com fome, sede e doente  
O nordestino se abate  
Enquanto a miséria cresce  
E o pobre mais empobrece  
O político sorrir contente  
Sabe que no próximo pleito  
Ele será reeleito  
Com os votos que o Prefeito  
Já comprou da pobre gente  

O nordestino que era  
“Antes de tudo um forte”  
Hoje às portas da morte  
Sem esperança na vida  
Explorado e esquecido  
Faminto, doente e fraco  
Seu único bem é um saco  
Com que mendiga a comida  
A família antes perfeita  
Hoje se encontra desfeita  
O filho está na sarjeta  
E a filha prostituída  

O Nordeste de cabra macho  
Honesto e  trabalhador  
De fibra, brio e valor  
De mulheres de certeza  
Hoje já não mais existe  
Não tem milho nem feijão  
Mandioca nem algodão  
É o meu Nordeste pobreza  
De mulheres sem maridos  
De filhos subnutridos  
De nordestinos sofridos  
É o meu Nordeste tristeza  
  



  
 

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Chico Calda
calda@ronet.com.br

 
 JÁ, SEU MOÇO?
  


Você já andou, seu moço  
Descalço, com os pés no chão  
Numa vereda orvalhada  
Nas serras do meu sertão?  

Você já sentiu, seu moço  
Cheiro de terra molhada  
Tomou banho de riacho  
Depois de uma enxurrada?  

Você já saiu, seu moço  
De casa na madrugada  
Pra ficar olhando a lua  
Fazer uma caminhada?  

Você já assistiu, seu moço  
O romper da alvorada  
Sentindo a brisa no rosto  
Escutando a passarada?  

Se você nunca andou  
Numa vereda orvalhada  
E se também não sentiu  
Cheiro de terra molhada  
Não observou a lua  
Na calma da madrugada  
Nem viu o quebrar da barra  
Escutando a passarada  

Eu sinto muito, seu moço  
Mas você não viveu nada

 


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Chico Calda
calda@ronet.com.br

NORDESTE: PROBLEMA E SOLUÇÃO 
1 – Bom dia compadre João  
      Como é que vai passando?  
  
2 – Bom dia. Mas eu não vou  
 É Deus quem vai me levando  

1 – A comadre, como vai?  
 E os meninos vão bem?  

2 – Vão como Deus é servido  
 Enquanto a morte não vem  

1 – Eu sinto que o compadre  
 Tá meio desanimado  

2 – Também pudera, compadre  
 Vivo sempre aperreado  

1 – O que está acontecendo?  
 O que é que o arrelia?  

2 – É essa dificuldade  
 Que aumenta a cada dia  

 Veja, só minha agonia  

 O milho está acabando  
 Feijão tem só um restinho  
 Deu o gogo nas galinhas  
 Não sobrou nenhum pintinho  
 E pra aumentar minha agrura  
 Só tem mais dez rapaduras  
 Duas cabras e um bodinho  

 Joaquim quebrou o pé  
 No mato buscando lenha  
 Quase que fica perdido  
 Sozinho naquela brenha  
 Antônio está acamado  
 Maria tem se queixado  
 Parece que está prenha  

1 – É...  
 A coisa não está boa  
 Pra você nem pra ninguém  
 Há tempos não ganho nada  
 Não tenho nenhum vintém  
 Ao menos para o café  
 Fui emprestar do tio Zé  
 Mas, ele também não tem  

 Todo mundo está sofrendo  
 Nesta nossa região  
 Já está faltando água  
 Não tem milho nem feijão  
 Nada pra forrar o estômago  
 E não se vê um relâmpago  
 E não se ouve um trovão  

2 – Da primeira plantação  
 Não me restou um só pé  
 Nossa última esperança  
 É dia de São José  
 Só resta agora esperar  
 Se não chover é rezar  
 E seja o que Deus quiser  

 Compadre, você me diga  
 O que nós vamos fazer  
 Sem chuva para plantar  
 Sem água para beber  
 Sem ter pra quem trabalhar  
 Para o sustento ganhar  
 Donde tirar o que comer  

1 – Do jeito que a coisa vai  
 É outra calamidade  
 Dizem que o sindicato  
 Pras bandas de Caridade  
 Está consultando o povo  
 Para saber se de novo  
 Devem invadir a cidade  

 Lá pra nós formou-se um grupo  
 Para falar com o Prefeito  
 Saber o que é que foi  
 Ou o que está sendo feito  
 Tem de haver mobilidade  
 O que não pode, é, compadre  
 Continuar desse jeito  
  
2 – Mas disseram que o Prefeito  
 Pediu pra ter paciência  
 Porque o Governador  
 Já falou com a Excelência  
 Do Planalto pra criar  
 Para o povo empregar  
 A frente de emergência  

 Os deputados também  
 Estão bastante empenhados  
 Um que é proprietário  
 De quatro supermercados  
 Numa manobra fantástica  
 Vai fornecer cesta básica  
 Aqui, para os flagelados  

1 – Outro que nas eleições  
 É um poço de decência  
 Já conseguiu para o pai  
 Ser chefe da Residência  
 Um irmão apontador  
 O filho será feitor  
 E um tio na gerência  

 Tem um que é mais autêntico  
 E sem ter constrangimento  
 Disse que vai empregar  
 Mãe e pai e até o jumento  
 Este pra carregar barro  
 Alugar também seu carro  
 E ter um fornecimento  

2 – Outros mais dissimulados  
 Fazem visita ao sertão  
 E com a voz embargada  
 Ar de compenetração  
 Pedem a Deus por clemência  
 E lamentam a repetência  
 Daquela situação  

 Prometem que vão trazer  
 Logo uma solução  
 Na verdade estão felizes  
 Rindo de satisfação  
 Está melhor que o plano  
 Pois, exato esse ano  
 É ano de eleição  

1 – Assim será bem mais fácil  
 Ter uma boa votação  
 Distribuindo receita  
 Dentadura e chinelão  
 Medicamento vencido  
 Xarope, chá, comprimido  
 E uma migalha de pão  

 Os vereadores fazem  
 A ponte de ligação  
 Entregando os donativos  
 Sempre em concentração  
 Demonstrando ser apreço  
 Pegam nome e endereço  
 Título, zona e seção  

2 – Desde o ano de mil  
 Oitocentos setenta e sete  
 A primeira grande seca  
 O flagelo se repete  
 E o governante da hora  
 Se o povo de fome chora  
 Uma solução promete  

 O Rei, Dom Pedro II  
 Empenhou seu nobre nome  
 Prometeu vender as pedras  
 Da coroa, aquele homem  
 Antes que um cearense  
 Ou qualquer nordestinense  
 Viesse a morrer de fome  

1 – Foi deposto e a coroa  
 Continua no museu  
 Para os efeitos da seca  
 A solução ninguém deu  
 E muita gente, de fome  
 Pelo descaso dos “home”  
 No meu Nordeste morreu  

 E continua morrendo  
 Fraca, de inanição  
 De dengue, tuberculose  
 Cólera e amarelão  
 Para acabar tudo isso  
 Basta haver compromisso  
 Vontade e cooperação  

2 – É bastante que se faça  
 Correta distribuição  
 Pequenos lotes de terra  
 Para o homem do sertão  
 Um pouco de infra-estrutura  
 E para a agricultura  
 Um muito de irrigação  

 Os estudos apontaram  
 Que a melhor solução  
 É do rio São Francisco  
 Fazer a transposição  
 E no Nordeste implantar  
 Pra com a fome acabar  
 Projetos de irrigação  

1 – Assim  grandes rios secos  
 Seriam perenizados  
 Às margens de cada um  
 Núcleos seriam implantados  
 Com estudos bem precisos  
 Considerando os cultivos  
 Ao solo mais indicados  

O retorno, meu compadre  
Já é possível antever  
Muita fartura na mesa  
Excedente pra vender  
Isso acontecendo um dia  
Nosso Nordeste seria  
O melhor lugar pra viver  

2 – A solução é viável  
 E simples, pode-se ver  
 Entre o custo e o benefício  
 É deste último o haver  
 Mas pra ser implementada  
 E ser a meta alcançada  
 É necessário querer  

 Querer, que Humberto de Campos  
 Traduziu como poder  
 Poder que está nas mãos  
 De quem não tem o querer  
 Pois se a fome acabar  
 Quem um voto vai lhe dar  
 Para manter-lhe o poder?  

1 – É meu compadre, difícil  
 Entender essa política  
 Mas para interromper  
 Essa verdade fatídica  
 Devemos bem eleger  
 Por isso devemos ter  
 Capacidade e crítica  

2 – Vamos, pois, melhor votar  
 Litoral, sertão, agreste  
 E da política expulsar  
 Todo aquele que não preste  
 Peste e fome acabar  
 Bem forte ao Brasil gritar  
 Viva o povo do Nordeste.  
  



  
 

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