Celso Borges

   
IN
..........................................................................................
 
há poesia dentro de mim 
na carótida no supercílio esquerdo na virilha no sopro do coração
 no abismo da memória no pentelho parado na unha lenta
 na minha língua portuguesa 
no tornozelo na geografia da veia na diarréia diária há poesia o bastante

na ejaculação precoce na falta de ar
 na quinta sexta vértebra total há
 no hálito nos sete litros de sangue na água inteira do corpo 
 na saliva nos neurônios na gordura em excesso 
no abcesso que já se foi havia um tanto de poesia
no riso rei na raiz na flor dos olhos luz e vidro espelho do outro
 na medula na hipófise no inferno de minha inveja há poesia que só vendo

veja bem:
 há simplesmente poesia em tudo de mim
 no céu da boca no sonho que vislumbro e assombra sobre o nu da página
na figa que o dedo faz no fígado que se desfaz no canal do esôfago
 dentro
 no centro do estômago
na frente e atrás há poesia demais

 entre cada um dos trinta e dois dentes 
no fundo do juízo no eme da palma da mão no chão da calma
 na gengiva rosa no sangue grave da aorta  na alma torta 
na fome de eterno há poesia dentro de mim 
nas entranhas no estranho barulho dos líquidos internos
 na boca - portal do desejo- na vesícula biliar  no intestino grosso 
na delicada íris nos testículos no espírito de porco do corpo
no fulano de tal em que às vezes me transformo
 no tutano do ilíaco há poesia também
 
há poesia na música que assovio de dentro de mim e que alguém ouve além
..........................................................................................
há poesia fora de mim

OUT
 

 
[ VOLTAR ][ PÁGINA PRINCIPAL ]