Angela Carneiro
Poevivendo
					   lendo poesia
					         de dia
					         me vêm
					   idéias loucas
					          roucas
					          louças
					    leio a morte
					    vejo-me morta
					    eu sem corpo
					    corpo torto
					          "oh! Sombra fútil chamada gente não fazes falta
					           a ninguém e ninguém faz falta a ti!"
					    Fernando Pessoa ressoa
					    é pessoa chamada gente.
					    E se me chamasse Raimundo?
					    É mundo o contrário de imundo?
					    Casa empilhada
					    em casais
					    casamento
					    acasalamentos.
					    lendo poesia
					          de dia
					    o dia vira noite
					    se é noite do poeta
					    Amo a bandeira
					    beijada baouçante
					    de Castro Alves
					    em Espumas Flutuantes
					    Flutuo eu também
					    para o futuro que vem
					    escrevo cartas a Luiz
					    amigos do Castro
					    nem tão casto
					    nem tão alvo
					    amo infinitamente o soneto
					    e me meto
					    na moradia
					    da poesia
					    de Vinícius de Morais
					    Tomo sorvete
					    sorvo palavras
					    de Cruz e Souza
					    Cruz Credo!
					    Tanto branco de um preto
					    que fico preta
					    sou Irene
					    entro no céu
					    como uma bandeira
					    do Manuel
					    E quero ter tudo
					    o anel e a luva
					    a luz brilha
					    sinto-me Cecília
					    Descubro oBrasil
					    melado em palavras novas
					    morro e vivo com
					    João Cabral
					    Que pais é este?
					    indago nas preces a Santa Ana
					    Com um pé em Colônia
					    outro em Roma
					    vou a Paris
					    e me enamoro
					    bonitinho como a poesia
					    do dia a dia
					    de Geraldy
					    e na volta do parque
					    vejo Dorothy
					    e sofro ser mulher
					    Volto para o Rio
					    e me rio
					    calo a boca
					    lutando contra moinhos
					    do Chico Buarque
					    Chega de tanto poema
					    sinto a métrica
					    a rima
					    o tema
					    teimosa leitora
					    de tantas letras
					    e tantas gentes
					    acordo
					    escovo os dentes.
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