Castro Alves


Ao dia Sete de Setembro

Mancebos, que sois a esperança Do majestoso Brasil; Mancebos, que inda tão tenros Sabeis de louro gentil Adornar o pátrio dia, Nosso dia senhoril! Eis que assomou sobre os montes Além, sobre a antiga serra, Entre mil nuvens de rosa, O dia de nossa terra; Aquele que para a Pátria Milhões de glórias encerra. Foi hoje que o Lusitano, Que o filho de além do mar, Despertou com forte brado A Pátria que era a sonhar, Que nem sequer escutava A liberdade a expirar. E o brado: — "Livres ou mortos" Lá nos bosques retumbou; E mais contente o Ipiranga As suas águas rolou; E o eco d'alta montanha Todo o Brasil ecoou. E as montanhas lá do Sul, E as montanhas lá do Norte, Repetiram em seus cumes: Sempre ser livres ou morte... E lá na luta renhida Cada qual luta mais forte. Sim, nos combates que, ousados, Travaram cem contra mil, O mancebo que nascera Sob este azul céu de anil, Forte como um Bonaparte, Batia o forte fuzil. E cada qual no combate Ao ribombar do canhão Queria à custa da vida Dar à Pátria salvação, Vingar a terra natal D'aviltante servidão. Eia, pois, flores da Pátria, Esp'rançosa mocidade! Que os Andradas e os Machados Do alto da Eternidade Contentes vos abençoam No dia da Liberdade.

Bahia, Ginásio Baiano, 7 de setembro de 1861.

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