Bueno de Rivera


Sobre a tua cabeça

Sobre a tua cabeça a espada. Não te movas, nenhum gesto, nenhum grito, pois a espada pode cair. Pende sobre os teus cabelos a espada nua. Cuidado! Nenhuma blasfêmia, ou mesmo orações, senão a lâmina cairá. Não movas o braço ou a face para o lado do mar tranqüilo. Olha à frente, não te assustes com a sombra trêmula. É o vento tocando a espada. À tua direita, os amigos te insultam. Fica em silêncio. Não te mexas, pode a espada desprender-se, e os teus amigos gozarão tua agonia. Mulheres, macias pétalas, acariciam teu corpo. Não te encantes, pois quem sabe se, partindo o fio, a espada destruirá teu amor? Os teus colegas, à esquerda, contam anedotas. Não rias. Pode a alegria matar. A espada é o remorso ou a bênção? Ninguém sabe... Só percebes que sobre a cabeça pálida pende o invisível.


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