Bento Prado Júnior


Coração de pedra

Não tem olhos de ver para a eterna beleza, o sorriso de Deus que ilumina a existência; não lhe fala à alma rude a suave pureza que reponta e sorri nos lábios da inocência; a flor não o interessa, ou surja na devesa, onde acaso a plantou a mão da Providência, ou soberba pompeie, onde o Belo se preza, requinte de arte pura ou prodígio da ciência. É que o vêzo do lucro, o seu deus verdadeiro, lhe deu ao coração consistência de pedra e aos olhos lhe roubou o poder da visão. Só lhe sobe à alma torpe o ouro, a moeda, o dinheiro... Templo erguido a Mamona, a piedade não medra na profunda aridez do seu vil coração.


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