Bastos Portela
Do "Nosso Livro"
					I
					Quando acaso, divina, se levanta
					Para mim, teu olhar meio e profundo,
					Eu penso que outro olhar que tenha tanta
					Beleza assim, não haja neste mundo!
					Outras vezes com as santas te confundo...
					E juro que esse olhar que me quebranta,
					Foi, por capricho, feito assim segundo
					O modelo do olhar de alguma santa!
					Ai! nem sei te dizer como é divino
					Esse olhar de celeste e doce encanto
					Em que vejo luzir o meu destino...
					- Esse olhar ideal de ardentes lumes,
					Que eu odeio, maldigo, e adoro tanto
					Na confusão do amor e dos ciúmes!
					II
					Vês?... eu não posso te fitar!... Entanto,
					Muitas vezes nos teus meus olhos fito;
					Pois nunca vi olhar assim maldito
					Que me encantasse e me atraísse tanto!
					Fujo-te, as vezes, com rancor; e, enquanto
					De ti me esquivo e o teu olhar evito,
					Blasfemo, e choro, e me lastimo, aflito,
					Por te não ver, ó meu divino encanto...
					E volto, enfim! Mas, se outra vez consigo
					Fugir ao fogo desse olhar malvado,
					Torno a chorar por te não ver comigo!
					E vivo assim nesse penas eterno,
					- Desse modo vencido e dominado
					Por esse amor que mais parece um inferno!
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