Angélica Torres Lima

Remetente Afonso de Almeida - fa@tba.com.br

Fazenda Dois Irmãos

para Antônio
no casamento da árvore com a terra a minha crença na vida na sua sobrevivência sem cuidados humanos a reverência aos elementos no seu crescimento para o alto serenamente imponente o ensinamento vivo de u`a meta e um comportamento no trabalho das raízes e no vôo das folhas a compreensão de que aos pés deu-se o chão a mente o infinito no gosto do fruto presença de água e mel drink ligeiro dos pássaros cheiro de infância na minha saudade Olhar léguas e mais léguas verdes cercanias de matas, vento cantando baixinho no ouvido, na fazenda da miaha infância Tanto verde em redor do Morro Alto lado a lado no topo dois bambuzais solitários irmãos companheiros No céu rastos vermelhos restos de sol No ar o cheiro do mato a transparência da noite invadindo No centro do reino verde o cavalo e eu a descer a calmaria da velha natureza lentamente O som do trotar de Cacique nas pedras friinhas u`a melodia pura os meus desejos ocultos os sonhos puros de criança riquezas simples da infância Sensação de cria da terra de filha do vento Impressão de ser folha de ser mato Certeza de ter brotado de solo fértil feito flor Ah, os campos, os pastos os córregos de água fresquinha o curral, a casa grande, o quintal a goiabeira perto da bica o milharal e as jaboticabeiras o prazer de beber com as mãos em concha a água pura da cacimba No parque das altas mangueiras perto do córrego sombrio a morada sagrada das fadas, gnomos, duendes, sacis o meu recanto predileto repleto de mistério amigo onde os sonhos conversavam comigo E eu a comer cajamanga verde, azedo, com sal, contemplando a beleza rústica do engenho cana, garapa, rapadura A casa do vaqueiro escondia em mim eu mesma: ela era o cenário imaginário de minhas estórias de príncipes e princesas No jardim da casa-grande as rosas e os cravos por meu pai cultivados com tanto amor Na escadaria dos fundos a vista do Morro Alto com os bambuzais irmãos e o requeijão quente da Lucinda, tentando a gente Da varanda, a beleza vermeLha dos enormes flamboaiãs, o curral do gado tratado o leite gostoso, na hora tirado Na janela do meu quarto tinha sempre visita de um colibri Não muito longe, no riacho o ensaio dos sapos para a noturna sinfonia Ah, fazenda querida bordei você na lembrança como foram no céu as estrelas bordadas nas suas noites de verão Guardei você, eom cuidado, no pór do sol de Goiás pra que todo dia sua presença reviva e eu a enterre imortal dentro de mim

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