Álvaro Pacheco  
   
CONCERTO DAS WALKYRIAS 
PARA O
ANIVERSÁRIO DE EVA BRAUN 
 
 
 

          "Três movimentos em uma longa fantasia. Um instrumento solista virtuoso conduz, desenvolve e se desembaraça em cima de um tema, em contraponto a um background orquestral, que representa um conflito ou uma competição entre grupos de instrumentos de diversas qualidades tonais. O crescimento da cadenza de acompanhamento reduz quase a zero, no final, a liberdade de improvisação da solista." 

          ************************* 
 

          "O ouvinte vai achando cada vez mais fácil identificar-se com as dificuldades e triunfos do solista, em analogia com suas próprias tentativas de abrir caminho na vida." 
 
 

          ************************** 
 

          "O crescente poder do instrumento solista permite e provoca um acompanhamento orquestral cada vez mais alto e envolvente." 
 

A. Veinus - "The Concerto"
 


I
ALLEGRO
 
  

Eva Braun dança piruetas alegremente de maiô, 
como na piscina, no céu de Berchtesgaden 
ao ritmo de produtos químicos revolucionários 
para acabar com o sorriso. Eva Braun 
se fotografa com a cão pastor austríaco 
e experimenta um chapéu tirolês azul - 
pela porta de serviço do palácio do Führer 
ela sobe a escada dos fundos 
por trás dos membros sorridentes do Bundestag. 
  

"Não tenho filhos, só os bem-amados 
habitantes de Dachau, e um ou outro 
sobrevivente de Dresden - sou, às vezes, 
Geli Raubal e inspiro um minueto a Wagner 
para dançar, à tarde, sob a cachoeira 
ou numa praça de Viena, como fazia 
na pensão de moças da Bavária - uma vida, disse Speer, 
em seguida e na seqüência exata, doméstica 
e relaxada, sem nenhum erotismo." 
  

"Que todos estejam preparados: 
com os pés plantados na terra sagrada 
se ajuntarão em torno de mim 
crateras, bondes quebrados, soldados sem medo 
marchas militares, músicas de igreja, passos de ganso 
e tambores frenéticos agitando as bandeiras 
monumentalizadas para o desfile": o Führer 
afaga as criancinhas e o cão pastor austríaco: 
EIN FÜHRER, EIN VOLK, EIN DEUTSCHLAND. 
 
  

Em 3 de março de 1933, dia do aniversário, 
Marta Engelman teve a primeira lição de dança 
embriagada pela unidade do povo alemão 
e pelo filme Mädchen in Uniform de Dorotea Wieck. 
Mas agora esqueceu as canções patrióticas 
as lições de dança e os filmes românticos: 
por isso as SS, tomando-o por um judeu, nesse dia, 
assassinaram o crítico musical Willhelm Schmid. 
  

"Todas as janelas de Berlim postaram-se 
em minha vida como um estreito pátio 
embora ele sempre prometesse: "além de Fräulein Braun 
não levarei ninguém comigo: Fräulein Braun e o cão": 
a amante de um líder 
tem de conformar-se a não ter amor, 
só operetas ocasionais e quatro horas de filmes por dia 
na vida de subterrâneo da Côrte 
no pequeno grupo abismal." 
  

Amanhã, depois de amanhã e depois de depois de  amanhã 
os fatos estarão sendo verificados 
minuciosamente por todos os destinos: 
os campos tranqüilos e os campos de guerra 
as barricadas e as barreiras das fronteiras: 
o Papa a abençoar a Cavalaria Polonesa 
contra as Divisões Panzer e os Stukas 
correndo nos olhos mortiços do Gueto de Varsóvia 
ou ainda a terra desolada de homens nus 
de mãos para cima carpindo seus cadáveres. 
  

Eva Braun silente: 35 pílulas para dormir: 
- "Tudo que eu queria agora era ficar doente 
e não ouvir falar dele para sempre. 
Por que nada acontece em minha vida? 
Por que o demônio não acorda para me levar 
deste outro que atormenta tudo? Por que 
o silêncio de gelo é assim no olhar feroz? 
Seria melhor 
o demônio do fogo que o demônio do gelo." 
  

Geli Raubal, a garotinha, 
já não é mais apenas uma mucosa 
e o orifício que a cerca, já não é mais 
uma imitação wagneriana do desejo - foi substituída 
nos passeios pelo campo e nas salas de Munique 
e na certeza do suicídio: Juliano, o Imperador, 
cuida de seu efebo amado e dorme com ele 
nas moedas e nas estátuas do Egito - Geli Raubal 
tem um busto de mármore no quarto da morte 
e, uma vez por ano, quatro horas de meditação 
do Senhor dos Exércitos. Qual será essa oração? 
  

- "Ela se matou pela minha chegada: 
e por ela suicidei-me duas vezes 
e morri outras tantas para consumir-me afinal 
no holocausto cinza que nos preparamos - 
e queria apenas 
uns vestidos novos, dançar de vez em quando 
e fumar livremente - preferiria até 
as chicotadas recebidas por quem o viu 
(talvez Emil Maurice) na intimidade dela." 
  

- "Nunca fui Mein Prinzesschen, Isolda e Tristão: 
um homem inteligente 
deve ter uma mulher primitiva e estúpida 
e um povo obediente. Um apóstolo 
não pode ter sentimentos, apenas seguidores 
e uma Stefanie romântica na juventude 
para justificar o mito e nutrir-se 
do orgasmo das multidões em delírio 
aos pés dos seus monumentos. 
  

As massas são uma mulher 
a ser possuída a cada instante 
em fervor erótico pelo Líder - aos poucos 
excitadas com blandícias, repetições vazias 
alinhando os pesadelos represados 
a brutalidade animal adormecida, o puro ódio 
inconsciente, para gozar a excitação e os grunhidos 
do orgasmo cívico incontrolado e demente 
da multidão e de seu pai ensandecidos. 
  

Yesterday and the day after: o Holocausto 
estava previsto: anunciou Jeremias: 
"Do Norte derramar-se-à a desgraça 
sobre todos os habitantes da Terra 
nas estepes e nos desertos 
planícies e montanhas de todo o povo 
que teimosamente sobreviver". E, "nosso Movimento 
é totalmente sem ideais e não tem mesmo 
a aparência de um programa - o instrumento 
de seus soldados é a ação inconsciente 
de seus líderes e o cálculo gelado do medo". 
  

- "No Hotel Vier Jahreszestein, em Munique, 
nada me disse em três horas e proibiu-me 
de falar - de soslaio 
me olhavam os cortesãos e os dignitários 
suspeitamente: a amante disfarçada 
em mulher do poder 
sem o romantismo de Stefanie ou o glamour 
das Walkyrias do cinema. Desesperadamente 
tentei identificar-me com ele. À saída, 
como a uma puta, deu-me um envelope com dinheiro. 
  

- "Maniacamente 
tentei encontrar a Mulher, identificar-me 
com ela" - pensou só uma vez. "A doce menina de Linz 
não se encarnou em você que se foi 
para a guerrilha aburguesada da mesmice 
e da ladainha das reivindicações cotidianas. 
Afinal, não somos casados e urge 
comportar-se propriamente 
no cenário de mil anos de Albert Speer." 
  

Depois da grande guerra pelo sangue 
a grande guerra do sangue - Total War. 
Civilians, o povo do mundo inteiro avassalado - 
Anne Frank via do seu esconderijo, abismada, 
the occupied countries por cima 
da Linha Maginot e dos cabelos jovens 
embranquecendo a cada 30 segundos em Dunquerque 
to became numbers 
on the Conqueror Book. Only death 
here is victory and the only free ones 
the exterminated. 
  

Many died on the way. 
  

- "Germans 
my people, Party Members, não devemos mentir 
enganar jamais - em nossas mãos 
está o Destino: entregai-me os vossos", 
assim 
Fernando e Isabel expulsaram os judeus - 
e começou a Era, a Nova Era da Morte. 
Exultaremos duas vezes em Nuremberg 
e dançaremos todos em Berghof 
as mímicas insuperáveis da insanidade. 
 
 
  

II
SCHERZO
  

Em Bunchewald e Dachau, o fundo do Mar Morto 
se estende por mulheres e crianças, mas não há vida, 
só estômagos para a fome - e nervos 
para sentir a dor, que já não tem importância - 
é mais que o sal-amargo de todas as infâncias 
onde a morte intrínseca é costumeira 
como o abrir dos olhos e o castelo 
de sonhos do mundo mineral. 
"This is the place, Gentleman", como bradava 
Stratis Thalassinos, o Marinheiro Grego. 
  

Em Obersalzberg, a beleza 
resplende mais o terror do despenhadeiro 
do que a harmonia da paisagem: 
O Führer dorme na poltrona ao lado de Eva Braun 
e pairam sobre ele os fluidos dos tambores 
dos povos da germânia 
no estupendo marketing da Nova Era: 
"- De onde vens tu? - brame o arauto. 
        - De Dresden! 
"- E tu?      - Da Pomerânia! 

"- E tu?       - Do Saar! 
Só não sabem para onde irão. 
  

"- Em meu balé solitário como o de um peixe alado 
busco redimir-me da solidão - exercito-me na barra 
e vou ao fundo da cachoeira colher girassóis 
qual borboleta infantil - os aviões 
me debruçam sobre o abismo, Geli Raubal 
não alcançou a perversão das borboletas doidas 
e restou em nós, assim como ao efebo amado 
do Imperador demente - uma árvore 
solta no rio procurando as tormentas." 
  

Stalingrado resiste: ("Já chegou o inverno?"), 
secretamente pergunta-se, apesar 
da fé e dos votos de lealdade pessoal. Freud 
deixa Viena e 60.000 pessoas, apenas lá, 
são presas pela visão externa do inconsciente - 
Sigmund Freud, num gesto simplório, 
tira o chapéu e se despede da pureza racial. 
De longe, não vistos por ele, outros perscrutam 
suas passividades e o medo escondido de morrer. 
  

"- Quando fecho meus olhos eu vejo 
o futuro do mundo a meus pés. O mundo criamos, 
não viemos dele - Ein Führer, Ein Reich, ein Deustschland." 
E, com um gesto, figurante da jovem Walkyria 
de longos cabelos louros no céu azul, ajeita o cabelo na testa 
a mão de Padre Nosso 3 vezes em saudação 
ou a bênção aos nubentes 
na cerimônia de amor dos condenados. 

- "Fui transformada em bovino 
como todos os outros 
no amanhecer de Munique. Speer tinha visto 
"uma simples moça do campo, apenas 
com o viço da juventude" - tudo fiz 
para não ser como a amante escondida 
mas me curti no silêncio enquanto o mundo 
vulcanizava-se - e assim me transformei 
numa banal prescrição para uso externo." 
  

Jeremias, o Nabi, na Segunda Deportação 
assim se preparou para a terceira e última: 
"Eu te constituo neste dia 
entre as nações e os reinos 
para arrancar e para destruir 
para exterminar e para demolir. 
Do Norte derramar-se-á a desgraça 
sobre todos os pecadores da Terra 
porque, eis, vou convocar 
todas as tribos dos reinos do Norte." 
  

Uma alma feita para o amor 
assim enviada, a predizer 
sobretudo a desgraça, homem da discórdia 
para todas as gentes. 
"Que culpa temos 
desse Profeta enlouquecido 
e de seu sonho delirante?", 
bocejam exaustos 
do fundo do Mar Morto 
os inmates de Auschwitz e das câmaras de gás. 
  

Geli Raubal, ainda uma criança, aprofunda seus passos 
e a Gestapo busca batatas escondidas 
nas dobras das calças rotas do povo - e todos 
estão famintos, a Gestapo 
está faminta, os cadáveres 
estão famintos, e o Sínodo, integralmente, 
se mistura na rua, circunspecto e faminto, 
enquanto entoa os cantos do Talmude 
para a cerimônia de extermínio dos mortos. 
  

Sob o Arco do triunfo, em passos lentos, 
passam as tropas para não despertar 
Napoleão Bonaparte. Britain remains. 
Willhelm Fürtwangler 
executa o Opus 130 de Beethoven, precisamente 
a Cavatina - vê-se, nos sons precisos, 
Stalingrado, o caminho de Moscou 
e a mulher amante da secretária do Führer. 
Fire. Bombs. Conquest. Death. Force. 
  

Os sofredores, 
os semimortos e as mães desconhecidas 
cantam canções da Rússia e da Eslávia 
e as das pás múltiplas que cuidam dos sepultados de ontem 
nascidos no mesmo dia opaco da morte premonitória 
no mesmo dia da Nova Ordem 
e dos suspeitos do fastio, dependurados no pátio 
entre os crucificados sem cruzes. 
Acima 
os conquistadores das ruínas. como na vida real. 
  

"Mas tu me conheces e me vês 
provaste meu coração que está contigo - 
consagra-o para o dia do massacre. 
Aquele que é da morte, para a morte. 
O do cativeiro, para o cativeiro. 
O que é da espada, para a espada 
E aquele que é da fome, para a fome". 

As criancinhas, no Gueto, 
pulam amarelinha 
na proto-história da morte - os mortos 
escasseiam as calçadas 
porque são teimosamente abundantes 
e ultrapassaram 
as cotas preestabelecidas 
da precisão ritual - a Solução 
é equânime para as criancinhas. 

Os que sobraram sabem - ou imaginam - 
que amanhã é o dia deles: 
ou poderia ter sido ontem 
se não fôra a falha do forno # 3 - 
a vontade de viver se agarra aos ossos 
com os pedaços da pele, uma caloria 
por centímetro quadrado - essa é a medida 
para esperar outros dois mil anos 
recitando o Profeta e seus salmos. 
  

Deixaram de ser pessoas, são galhos 
ressequidos de almas, 
como em Gogol ou muito antes 
ou depois, no ritual tenebroso 
antecipado - os mortos 
que enterrem seus mortos, não viemos 
aqui para um espetáculo 
mas para 
a finalização dos ideais - e dos Profetas. 
  

E assim foi feito - Heinrich Himmler 
desmaiou em Minsk 
na execução de prisioneiros - é difícil 
suportar a presença 
de nosso crime em nossos olhos, who 
called you here? 
As almas sensíveis comandam a morte, 
mas não conseguem 
suportá-la. 
  

Ao contrário das imagens do cinema 
as raposas não sobrevivem no deserto - 
o que escondem 
são suas tocas e as fanfarras 
para atrair os cães fardados, as raposas 
não usam óculos de aviador 
e não se aventuram onde 
cai areia nos olhos, preferem mais 
as estepes e as montanhas geladas. 
  

25 Klon B - a mezinha mágica 
Bad und Desinfektion - e depois 
novembro 1918 - a cláusula última 
da hora final de Jeremias 
voando sobre as montanhas: 
"quem é da morte, para a morte 
quem é da terra, aqui se enterre 
quem é da escravidão 
aqui desapareça para sempre". 
  

Neste scherzo, nota a nota, toma forma 
a fisiologia da tirania em dimensão programada 
por todos os meios precisos da lógica 
e do jogo do terror implantado 
no cerne dos neurônios esterilizados 
pela religião bem clara do massacre 
em seus ritos obscuros = "nós, alemães, 
somos os únicos povos do mundo 
a agir decentemente com os animais". 
  

Eva Braun suplica inutilmente por um cão. 
 
 
  

III
ALLEGRO MA NON TROPPO
  

"Por que eu trago uma desgraça do Norte 
o Destruidor das Nações se pôs em marcha 
para transformar tua terra em solidão - 
e destruir tuas cidades 
até não ficarem mais cidades. 
Ai de nós que estamos perdidos! 
Anuncia-se desastre sobre desastre 
por todo o campo devastado." 
E todos os pássaros fugiram do céu. 
  

Eva Braun é o Mensageiro chegando inesperado -  
ao Bunker de Berlim para não mais voltar 
- "Quando me for, chamarei apenas Fräulein Braun 
Fräulein Braun e meu cão." 
- "Tive de vir: 
agora me exporei ao mundo e serei esposa 
esposa da morte por uma hora - e Geli Raubal 
estará vingada. Nada prenuncio, mas aqui 
tudo se torna um subterrâneo mítico 
sem qualquer ressurreição. 
  

Quem tirou os quadros da parede? 
E guardou os tapetes e jogou aqui 
as manchas de fuga pela sala abandonada 
e que notícias trágicas dos jornais velhos 
se refletem no general bêbado dormindo no sofá?" 
O passado fica cada vez mais perto 
quando o futuro vem chegando. Estes daqui 
também não são culpados de ter havido 
o delírio e a farsa do Profeta Jeremias. 
  

O pássaro do espinheiro faz um único vôo 
e canta uma só vez em toda a vida, 
na véspera de morrer. Eva Braun 
já não se lembra do suicídio do marido 
nem da neve de Berghof e das fumaças dos canhões 
que não se identificavam 
com as trilhas translúcidas de Obersalzberg - 
mas mesmo assim voltou, como em si mesma, 
para seu Holocausto cinza - e o último canto. 
  

os presságios se apoderaram das praias 
e as mulheres e as crianças estão on the move - 
ten thousand corps a day 
jews or no jews, they are all the same 
in terms of destruction and slow movements 
on a concert under heavy fire 
during almost three weeks. Germans 
aos milhares, descalços nos cobertores de neve, 
asfixiados nos túneis, esquilos nas florestas queimadas. 
  

O conde Stauffenberg sacrificou o olho 
depois o braço e, finalmente, 
sofreu quatro mil mortes pela tentativa 
de extinguir uma vida que se punha contra 
cem milhões de vidas. Da Normandia 
já galopa o cavalo branco morto 
fugindo do esconderijo dos ratos, com a peste 
e as crianças louras revoando 
convocadas para a chacina final. 
  

“Levantei um sinal de Bet-Acaram 
porque a desgraça já chegou das montanhas do Norte - 
terror de todos os lados - sobre os píncaros 
elevo gemidos e prantos. Sobre 
as pastagens das estepes 
um canto de lamentações." 
O Senhor Sifilítico 
já não dormia na sua hora terminal 
apesar das garantias dos Comandantes 
e das traições gerais. 
O vento encostara no abismo. 
  

- "Nosso líder destruiu um tanque antes de morrer"-  
me disseram na véspera. As paredes de concreto 
ofereciam o suor do medo 
aos defensores da cidade sem saída 
ou fantasia possível, como um morto desenganado -  
the fateful destiny of the people, não valem mais 
os mimetismos e as máscaras. 
- "Nunca mais teremos 1918, nunca mais", 
exceto este 45, mensageiro dos russos. 

O cão Blondi espreita Eva Braun, 
também consciente de seu fim, já sem os afagos 
da mão trêmula escondida na calça preta. Eva Braun 
recebe os sacramentos do ato não sagrado: 
- 'A vida não perdoa as fraquezas, Mein Kampf." 
E, apesar de tudo, é bem fugaz a loucura. 
Os poros e as lágrimas do mundo 
estão prestes a secar 
nestes momentos sonâmbulos da mitologia. 
  

Na cantina do Bunker o Senhor dos Exércitos 
reúne os últimos discípulos para a penúltima ceia, 

'O sangue do mundo é meu destino." 
Do tiro que se ouviu 
não emergiu nenhum Aquiles, mas apenas 
a última saudação de braço erguido 
registrada em Jerusalém. Eva Hitler 
se suicida pela terceira vez 
sem uma palavra de protesto 
no dia do aniversário, agora póstumo. 
  

Paris/Rio/Gramado, set/nov 91.
 
 
pache06@ibm.net

Índice do Autor | Página Principal
 
 
Página editada por  Alisson de Castro,  Jornal de Poesia,  20  de  Agosto  de  1998