Antunes da Silva

Passsei o Tejo à Noitinha

Passei o Tejo à noitinha e vi o Tejo calado, trago um barco de papel p'ró deitar no mar salgado. Quando o barco se romper deito no Tejo uma estrela e a estrela branca lá fica e nunca mais torno a vê-la... Dizem os homens e mulheres que nas águas deste Tejo barra fora lá seguiram camponeses do Alentejo que nesse tempo sentiram o que era a triste vida feita de nada de nada e por demais permitida... Falam os homens mais velhos que neste rio -ó desgraça! - partiu barco e partiu povo rumo a Timor e Mombaça passando pelo mar alto p'ró Bié e Tarrafal, gente de boa presença que nunca a ninguém fez mal! Diziam os homens mais velhos com espanto e em segredo, que nas águas do rio Tejo partiu gente p'ro degredo: Timor, Bié, Tarrafal, no tempo do salazar as barcas seguiam cheias a navegar, a navegar, com homens em cativeiro, Timor, Bié, Tarrafal, e regressavam com ferro, coco, amendoim e sisal... Passo o Tejo à noitinha e já ninguém me faz mal!


* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * *