António Afonso Bernardino



Duas Pêras

Mote

Duas pêras que eu tinha Andavam sempre empinadas De tanto lhes ter mexido Estão moles e penduradas. I Eram duas pêras perfeitas Quando um dia as conheci A primeira vez que as vi Achei-as muito direitas Rosadas muito bem feitas Pareciam cacho na vinha Uma fruta tão durinha Que eu gostava de mexer Levava horas a ver Duas pêras que eu tinha. II Mas que ricas pêras são Dizia cá para mim Dá gosto ver fruta assim Seja de Inverno ou de Verão Quando lhe jogava a mão Até as deixava inchadas Eram sempre bem esfregadas Fosse de noite ou de dia Pêras de pele macia Andavam sempre empinadas. III Fruta torrada amarela Que fruta tão natural Nem sequer havia igual Uma fruta como aquela Tinham uma cor tão bela Fizeram-me andar perdido Quase estraguei o sentido Noutro tempo atrasado Hoje tenho o fruto estragado De tanto lhe ter mexido. IV Murcharam com a idade Ficaram todas franzidas São duas pêras lembidas Que perderam a vaidade No tempo da mocidade Foram muito bem tratadas Mas já não são apalpadas Coitadinhas metem dó São duas peles num pé só Estão moles e penduradas.


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