Antônio Massa




Cartesianos

Cartesianos desabados entre as fórmulas confeccionadas sob encomenda emendas nas vielas nossas invadidas pelo prático ímpeto de desnudar da vida uma satisfação qualquer Conhecemos os quadrantes mas não vemos antes de toda a metria nem entendemos que o silêncio foi criado a fim de ouvirmos seu doce pranto e não para preenchê-lo com formulações técnicas étnicas ásperas Por demais acartesianados não distinguimos o espírito despido de números ou códigos deveras quadrados sem contornos nas arestas sem astúcia para contornar situações pontudas oferecendo apenas respostas pontiaguadas aos ponteiros da vida que ao acaso giram, não para marcar hora a outrora ou demora mas para manifestar que avançam dançam enquanto vivos enquanto ventos enquanto corpos enquanto bichos Cartesianos... destituídos da vontade de crescer almejando desvendar a vida com o conhecimento obsoleto por demais lógico e tétrico objético Queremos resgatar o saber do monstro do Desconhecido mas quem irá salvaguardar nossas almas se não concedemos se não concebemos se não compreendemos se não empreendemos o caminho para o Ninho para nos entendermos para nos perdoarmos para nos conhecermos ao invés de esquecermos de nós os homens os lobisomens os meta homens os meio homens Cartesianos... demais para aceitarmos Amor numa relação homossexual demais para aceitarmos o Amor que de cima nos é oferecido nos ferimos não podemos computar o Sentimento então erguemos os muros as fronhas as frontes os horizontes separamos o homem do bicho do corpo do vento da vida mas não separamos o homem do homem lobisomem meta homem meio homens mulheres crianças que não justificam nosso fim nosso início nosso concerto nosso desconcerto nossa cartesianidade que é o precipício a precipitação a prece para a ação desnutrida desdentada exaurida Cartesianos... nossas questões fúteis inúteis indagam quantos raios emite o sol quantos pelos há na púbis quantas vidas há na morte mas não nos preocupamos em tomar a quentura da luz do corpo em viver esta vida como se ela fosse única como se ela fosse virgem e fôssemos penetrando calor adentro noite adentro suspirando cada ponto de aurora gemendo cada agora germinando curtindo cultivando cultuando Cegos frente às cordas bambas bombas para quem não as sente com os dedos o corpo a alma a calma estamos caindo em nossos mapas arquitetônicos astrais geométricos geográficos e os leões nos esperam no picadeiro depois da queda depois da morte e sabe-se lá qual a sorte de quem despenca flácido ácido nas gargantas do felino Cartesianos, infelizmente, esperamos o Artesão que venha cobrar os juros construir os muros edificar os matadouros Arrancar de nós o couro o ouro os cofres Estamos esperando que a praia seque e o mar se vá para sentarmos, então, ao nada e queixarmos academicamente - Onde foi que erramos a conta?


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