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André Luís Mansur

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André Luís Mansur

Claufe Rodrigues

29.9.2001

 

Machismo, ironia, 

algumas metáforas, 

linguagem chula e 

muitos equívocos

Roman-se, de Claufe Rodrigues. 

Editora Record, 254 páginas. 

R$ 29

Frases curtas podem dar dinamismo a uma história, assim como metáforas criativas enriquecem o enredo e mesmo a linguagem chula é capaz de conferir um tom bem-humorado a uma narrativa. Estes três itens estão presentes em “Roman-se”, mas de uma forma tão inadequada como os ingredientes de um bolo do qual se perdeu a receita.

Roman é um publicitário metido a besta que impressiona uma estudante durante uma palestra. O livro é contado pelos dois personagens, com direito a tipos de letras diferentes, o que consiste num recurso atraente.A frágil Anette é uma personagem bem mais interessante do que Roman, perdida entre o passado tumultuado e um monte de inseguranças. A sua redenção emocional é a melhor parte do livro, mas até lá a trama se perde em situações e personagens estereotipados, metáforas e jogos de palavras infelizes, e uma pressa inexplicável em se resolver dramas complexos, como o aborto.

Este trecho, aliás, explica bem como o livro se desenvolve na indecisão entre o humor, refletido no machismo cheio de frases-feitas de Roman, e a seriedade, vista no passado triste dos dois e na dificuldade em se relacionarem. Anette engravida e quer ter um filho, mas Roman é contra. A situação, drama terrível para qualquer mulher, é resolvida em um parágrafo. Não apenas ela desiste do filho, como na página seguinte já está curada do trauma, comprando livros em Buenos Aires. E o que é melhor: sem nenhuma seqüela emocional.

Dá para perceber que o autor não gosta mesmo de perder tempo em aprofundar os dramas dos personagens e sim em criar situações inverossímeis. Tudo bem que Roman seja um publicitário badalado, mas daí a acreditar num casamento transmitido ao vivo pela TV e com um desfecho como este é demais: “O padre finalizou rapidamente a cerimônia, para não estourar o tempo da TV, e nosso beijo teve câmera girando, como em ‘Deus e o Diabo na Terra do Sol’, enquanto a multidão cantava uh tererê !”.

Após a tentativa de suicídio de Anette, Roman vai visitar a esposa em recuperação na clínica e eles transam no leito, como se fosse a coisa mais normal do mundo. Tão escandaloso quanto acreditar que o visitante possa fazer amor com a paciente é comprovar que alguém possa criar “metáforas geográficas” como esta: “Abaixo da linha da cintura estava quente e úmida, como a floresta amazônica. Toquei um pouco mais fundo, nas cavernas de Minas Gerais”.

E não pára por aí. Quem já pegou ônibus para a Baixada Fluminense no terminal Américo Fontenele, atrás da Central do Brasil, sabe que a grande maioria dos passageiros é de trabalhadores que ganham mal e moram longe, mas que, apesar das dificuldades, costumam tomar banho todos os dias. Não na opinião do autor, que coloca seu personagem Roman, vomitado da cabeça aos pés e fedorento como um gambá, dentro de um daqueles ônibus sem nenhuma reclamação dos passageiros.

O autor, que é poeta, de vez em quando lança frases com rimas e ritmos diferentes, mas é difícil manter o interesse diante do mar que levanta “o esperma das espumas”, de “um corredor de heras que pareciam estar ali havia horas, e não eras”, do sujeito que “larga as vagabas em qualquer vaga do imenso estacionamento humano” ou de descobrir que “há uma luz no fim do útero”.

Personagens machões, como Roman, podem ser atraentes, mas se vierem acompanhados de um contexto mais interessante do que o visto aqui. Caso contrário, suas frases têm apenas como interesse irritar mulheres que tenham um mínimo de auto-estima, o que, para determinados escritores, é o que basta: “À mulher basta abrir as pernas, fechar os olhos e imaginar que está dando pro galã da vez”. 

 

ANDRÉ LUIS MANSUR é jornalista

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