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Ascendino Leite


 


Nota prévia

(Prefácio do livro Sonhos & Fantasias, 2000)

 

 

A gente pensa que é só abrir uma porta na fachada da mente e já se estar nas proximidades da poesia. O problema não é este. A poesia não se dispõe como objeto para se acomodar em algum escrínio; que é ela que aparece e fica na direção em que possa dizer que os olhos são dela e, ainda no seu domínio, jogar em nossa percepção os seus ricos mas invisíveis modos de aliciar-nos à sedução dos seus mistérios.

Vá que, aqui e ali, ela se mostre infensa aos ardis da ficção inclinada à posse interior do mundo, como quando acaba de chegar do monte de disfarces sob que expandir seu discurso encantatório.

Seria uma predeterminação despercebida dela própria, não tivesse a poesia intuições e gostos que a enganam, como às crianças com bagos de laranja-lima ou cançonetas de ninar para entreter essa coisinha impertinente, que se chama curiosidade.

Seu único mérito é o de saber iludir, parecer fácil e luzir no escuro como num SONHO ou numa FANTASIA. Foi vencendo essas táticas mas para estar presente nela que cheguei ao topo da arte poética da autora deste livro revelador de tantas mágicas como o doce e envolvente semblante das moedas de Sísifo.

Quem não tem prazer em examiná-las? Melhor que Regina Lyra, ninguém.

Só os que desanimam no caminho perdem a vista do alto das montanhas e se deixam entregar à embriaguez do vocabulário que lhes foi imposto para brilhar no teatro dos desatendidos de invenções. Quer-se dizer, de poesia. Contentam-se com o mínimo, até com meias palavras. Alcançado o que se propôs, a que se dedicou com persistente carinho e amorosidade, Regina Lyra tomou nota do seu Sonho e tornou manifesta, para valer, entre viver e mostrar, a sua Fantasia lírica.

É na verdade o que importa, o que acabou tomando forma, somando as coisas e as palavras, os sentimentos, as sensações. Para mim, como prefaciador, não foi numa só vez que o visitei, porém agora é que me dei conta de que nem o nosso empenho pró dúvida arredondou em nossa natureza o fascínio miraculoso da compreensão poética em todo o seu latejar inventivo e metafísico.

 



Regina Lyra
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16/11/2005