António José Maldonado

Dies Irae
 
 
Não me esqueçais
Vós coexistentes insectos 
andados objectos da minha alma 
chão consultado por muito povo 
sala própria de todos os destruídos invernos 
Sob o sol entregamos o sangue da erva
Rumor nenhum ultrapassará o fogo a água
demoradas cicatrizes continuarão o assombro da unidade
instruindo os ceifeiros para as espigas da última jornada
Terminada a conjunção do tempo
as primaveras expõem aos ombros sua nudez silenciosa
 
Amanhã beberemos paciência
amanhã será o homem encontrado no seu osso 
sua face arredondada pelas marés 
seu dedo dócil - a medo pintado - sem título 
e Tu - Senhor! - desocupado de passado e de futuro 
cercado de altura e provérbios.
 
 
Do livro "Limite Cultivado" - Ulmeiro, Lisboa, 1984
 
Remetente : Maria Alice Vila Fabião

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 Página editada  por  Alisson de Castro,  Jornal de Poesia,  20  de Março de 1998