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Novidades da semana
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Página atualizada em 05.07.2000
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Agostinho Neto
Angola, * 1822 -
Bio-bibliografia  (aguardando que algum leitor envie)
 

Poemas:

  1. O choro de África
  2. Fogo e ritmo
  3. Noite
  4. Confiamça

 
 
 
 
 
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Agostinho Neto

                                 O Choro de África
 
 

O choro durante séculos
nos seus olhos traidores pela servidão dos homens
no desejo alimentado entre ambições de lufadas românticas
nos batuques choro de África
nos sorrisos choro de África
nos sarcasmos no trabalho choro de África

Sempre o choro mesmo na vossa alegria imortal
meu irmão Nguxi e amigo Mussunda
no círculo das violências
mesmo na magia poderosa da terra
e da vida jorrante das fontes e de toda a parte e de todas as almas
e das hemorragias dos ritmos das feridas de África

e mesmo na morte do sangue ao contato com o chão
mesmo no florir aromatizado da floresta
mesmo na folha
no fruto
na agilidade da zebra
na secura do deserto
na harmonia das correntes ou no sossego dos lagos
mesmo na beleza do trabalho construtivo dos homens

o choro de séculos
inventado na servidão
em historias de dramas negros almas brancas preguiças
e espíritos infantis de África
as mentiras choros verdadeiros nas suas bocas

o choro de séculos
onde a verdade violentada se estiola no circulo de ferro
da desonesta forca
sacrificadora dos corpos cadaverizados
inimiga da vida

fechada em estreitos cérebros de maquinas de contar
na violência
na violência
na violência

O choro de África e' um sintoma

Nos temos em nossas mãos outras vidas e alegrias
desmentidas nos lamentos falsos de suas bocas - por nós!
E amor
e os olhos secos.

                                                                                                                      (Poemas, 1961)

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Agostinho Neto
                                    Fogo e Ritmo
 

Sons de grilhetas nas estradas 
cantos de pássaros 
sob a verdura úmida das florestas 
frescura na sinfonia adocicada 
dos coqueirais 
fogo
fogo no capim
fogo sobre o quente das chapas do Cayatte.

Caminhos largos
cheios de gente cheios de gente 
em êxodo de toda a parte 
caminhos largos para os horizontes fechados 
mas caminhos
caminhos abertos por cima 
da impossibilidade dos braços. 
Fogueiras
dança
tamtam
ritmo
Ritmo na luz
ritmo na cor
ritmo no movimento 
ritmo nas gretas sangrentas dos pés descalços 
ritmo nas unhas descarnadas

Mas ritmo
ritmo.

Ó vozes dolorosas de África!

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Agostinho Neto
Noite

Eu vivo
nos  bairros escuros do mundo
sem luz nem vida.

Vou pelas ruas
às apalpadelas
encostado aos meus informes sonhos
tropeçando na escravidão
ao meu desejo de ser.

São bairos de escravos
mundos de miséria
bairros escuros.

Onde as vontades se diluíram
e os homens se confundiram
com as coisas.

Ando aos trambolhões
pelas ruas sem luz
desconhecidas
pejadas de mística e terror
de braço dado com fantasmas.

Também a noite é escura.

Remetido por
Fernando Antonio da Costa Vieira
fermavieira@uol.com.br
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Agostinho Neto
Confiança
 

O oceano separou-se de mim
enquanto me fui esquecendo nos séculos
e eis-me presente/
reunindo em mim o espaço
condensando o tempo.

Na minha hisória
existe o paradoxo do homem disperso

Enquanto o sorriso brilhava
no canto de dor
e as mãos construíam mundos maravilhosos

john foi linchado/o irmão chicoteado nas costas nuas
a mulher  amordaçada
e o filho continuou ignorante

E do drama intenso
duma vida imensa e úti/
resultou a certeza

As minhas mãos colocaram pedras
nos alicerces do mundo
mereço o meu pedaço de chão.

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