Afonso de Freitas 

Caminhagem
 
Menina, a noite é redonda, 
vestido transparente 
de gase negra, 
curto e sem mangas 
nem calças compridas, 
apenas uma tanga 
sem rendas gregas 
folgada a propósito 
ao fácil exame e diagnóstico. 

Rolou nos ciclos  
entre muralhas dos seus pastores 
e logaritmos de remotos estágios 
que as atas converteram em arras 
e os noivos, agora, 
de mãos sem bula, luvas ou bengalas, 
profetizam na adequação asfáltica 
bailados em novos ritmos 

Menina, está tudo claro 
sob a gaze negra da noite redonda: 
não trouxe as lareiras  
e as cinzas 
dos seus frios quintais  
nem as varizes da caminhagem longa, 
apenas o resmungo atávico 
das safras passionais 
na sazonaria convicção e culto das perucas 
com as tarefas no sexo  
e as mensagens na cuca.

 
Remetente: Chico Poeta

[ ÍNDICE DO POETA ][ PÁGINA PRINCIPAL ]
 
 
 
Página editada por  Alisson de Castro,  Jornal de Poesia,  24 de novembro de 1997