Adailton Medeiros


Auto-retrato

Diante do espelho grande do tempo sinto asco tenho ódio descubro que não sou mais menino Aos 50 anos (hoje — 16 / 7 / 88 (câncer) sábado — e sempre com medo olhando para trás e para os lados) questiono-me (lagarto sem rabo): — como deve ser bom nascer crescer envelhecer e morrer Diante do espelho grande na porta (o nascido no jirau: meu nobre catre) choro-me: feto asno velhote pétreo ser incomunicável sem qualquer detalhe que eu goste (Um espermatozóide feio e raquítico) Como nas cartas do tarô onde me leio — eis-me aqui espelho grande quebrado ao meio

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