Alberto da Costa e Silva

Soneto a Vermeer
 
 
De luto, a minha avó costura à máquina,
e gira um catavento em plena sala.
Vejo seu rosto, sombra que a janela
corrompe contra um pátio amarelado

de sol e de mosaicos. Sobre a mesa,
a tesoura, um esquadro, alguns retalhos
e a imóvel solidão. A minha avó,
com seus olhos azuis, o tempo acalma.

A minha avó é jovem, mansa e apenas
a limpidez de tudo. Sonho vê-la
no seu vestido negro, a gola branca,

contra o corpo de cão, negro, da máquina:
a roda, de perfil, parece imóvel
e a vida não se exila na beleza.

 

[ ÍNDICE ANTERIOR ][ PÁGINA PRINCIPAL ]
 
 
Página editada por  Alisson de Castro,  Jornal de Poesia,  30  de  Agosto  de  1998