Alberto da Costa e Silva

Soneto do Cafuné
 
 
As mãos são como a chuva. Desenrolam
a rede do armador e a estendem, barco
no remanso do quarto. As mãos convocam
o que há, no verão, de sonolência.

As mãos repartem, leves, os cabelos.
O alado cafuné azula a serra,
afugenta os morcegos, põe nas sombras
o cantar do correr de pés na areia.

O remar da carícia afina as formas
deste mundo barroco e o faz conciso,
uma linha de luz na noite. Corre

pelo urdume do sonho outra beleza
(só tive Deus em mim alguns momentos)
que o tempo não corrói, nem o sol cobre.

 

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Página editada por  Alisson de Castro,  Jornal de Poesia,  30  de  Agosto  de  1998