Alberto da Costa e Silva

Prece de 23 de Novembro
 
 
Meu pai,que estás no céu,
no céu que vejo,
neste céu que respiro e que me veste
(e não naquele de derrota feito,
em que o eterno disfarça o sonho breve),

repara em mim, 
em mim, que me envelhece 
a tua falta
(a tua falta cresce
e desfaz o rancor desta certeza:
mesmo na morte o corpo dói), protege

o homem que fizeste e que, menino,
se agacha junto à quina das paredes,
o queixo nos joelhos,
o olhar cego
a outro tempo que não seja ainda
imóvel, puro, certo,
como tu,
como tu, que estou sendo 
na carne que, em mim, 
é o teu degredo.

 

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Página editada por  Alisson de Castro,  Jornal de Poesia,  28  de  Agosto  de  1998