Alberto da Costa e Silva

Rito de Iniciação
       
 
§   meu pai dizia as mangas que enverdeçam
     para que o sal lhes dê um novo gosto
     cortava o sol em fatias o sumo o rosto
     sujava de luar de mate ou pouca 
     luz que fundeia na sombra da jaqueira

     chegava à carne do fruto à rude juba
     que arma em fera a pele do caroço

§   à margem do curral mergulho aberto
     do tamarindo meu pai dizia fazes
     o desgosto compões cada segredo
     a cresciúma os ninhos nos alpendres
     o adeus com flores os ombros dos mendigos
     a sustentar a curva porta os cegos
     a cavalo e os porcos nos açougues

§   o azul é rouco e teu meu pai dizia
     este silêncio de viração furtada
     outras monções com cheiro de goiaba
 

§   sabor só soturno soterrado 
     dá a manga o trotar o alaúde
     meu pai dizia o sol é sal e o solo
     nada cultiva em nós nem a descalça
     morte rastro leve na farinha.

 

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Página editada por  Alisson de Castro,  Jornal de Poesia,  25  de  Agosto  de  1998