Alberto da Costa e Silva

Soneto
       
 
Cerâmica e tear: as mãos trabalham 
e constroem o amor num fim de tarde, 
como jarro de rústico gargalo 
ou fino pano arcaico. Sobre o barro 

põem desenhos mais jovens de suaves 
moças dançando e restos de paisagens 
da infância e da montanha: perfis núbios 
sobre o vermelho poente desse jarro. 

E a substância mais tímida do sonho, 
nas mãos do artesão, faz de seu pranto 
e cismas, riso e ardor, tecido raro 

em que se borda uma novilha, bela 
como o beijo em setembro, em que se fez 
o amor com outro fio e um outro barro.

 

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Página editada por  Alisson de Castro,  Jornal de Poesia,  19  de  Agosto  de  1998