Alberto da Costa e Silva

Canção às Moças Tísicas
       
 
Vejo-vos frágeis e tristes como estátuas de areia 
que carregassem a espera em seus sorrisos raros,  
ó moças tísicas, ó olhares quase lágrimas,  
mãos que não sabem outros gestos que não sejam de adeuses. 

É bem pouco viver, é bem pouco, meninas 
de olhos cheios de memórias e verdes nostalgias, 
de imagens felizes de cidades distantes.  

Ah, a surpresa da boca que fonte se tornou! 
Ah, as palavras vermelhas sobre os amores fanados!  
Ó luas exiladas, ó moças esquecidas da ternura do abraço, 

ouço o rumor de sofrimentos longínquos, vozes, vozes 
que me falam da cova, do doce e rude jardineiro 
que ara, semeia e rega os largos campos dos mortos.  

Ó jovens que caminhais tristonhas como se chorásseis, 
ide recolher a inocência das manhãs e das rosas, 
antes que soprem do sul os ventos desordenados!

 

[ ÍNDICE ANTERIOR ][ PÁGINA PRINCIPAL ]
 
 
Página editada por  Alisson de Castro,  Jornal de Poesia,  19  de  Agosto  de  1998