Tenho a impressão,
ou a quase certeza, de que Soares Feitosa renasceu de si mesmo, através
da fonte lustral da Poesia, para desempenhar um munus igual ao dos grandes
bardos que viveram entre os celtas e gálios, ou de um vate romano
ou de um rapsodo das montanhas e dos ventos da Grécia, narrando,
com ímpeto de fogo, sua visão onírica, talássica
e telúrica, escondida em seus silêncios de homem durante cinqüenta
anos.
E traz, ao longo do Canto, aquele impulso épico, homérico ou rilkiano de celebrar o amor, os seres e os mitos, tendo como leitmotiv a memória ancestral do sertão, ou as dores gregárias do Nordeste, com seus sofridos personagens a caminhar, sob um sol wangoghiano, em procura do destino, deixando sobre a terra abrasada seu suor, seu sangue e suas lágrimas. O material de que se serve esse jogral ressurecto é tão moderno ou tão eterno quanto a face da própria beleza: é o epos, ou o poema epopéico, sob a fonte da inspiração de arquétipos junguianos e lembranças localistas e universais, sobretudo da infância, com a força do olhar subitamente estendido sobre as estilhas do tempo, para cantar, com a síntese do verso, o fulgor dos temas que não morrem. Sua chegada
à poesia brasileira, saindo dos cafundós heróicos
do Ceará, onde outrora soaram os bacamartes de guerra dos Feitosas,
Montes e Mourões traz-nos a grande semente de que nasceram um dia
a Odisséia e a Ilíada, ou a Eneida e os Lusíadas,
como depois Dom Quixote ou as lendas belíssimas do Graal, e, já
agora no Brasil o Canto de um Gerardo Mello Mourão, com seus Peãs,
ou versos hínicos e flemejantes, de rara transcendência temática
ou imagética.
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Benevides
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