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COORDENAÇÃO EDITORIAL   |   SOARES FEITOSA | FLORIANO MARTINS
2000-2010
 

 

 

 

BANDA LUSÓFONA | GUINÉ-BISSAU

Vasco Cabral | (1926-2005)

A poesia de Vasco Cabral

 

Joana Ruas

 

Vasco Cabral nasceu em 1926 em Farim na então Guiné Portuguesa e cedo se interessou pela política participando na campanha de Norton de Matos, candidato da Oposição anti-salazarista à Presidência da República Portuguesa. Formado em Ciências Económicas e Financeiras, é preso em 1953 em Lisboa quando regressava de Bucareste onde participara no IV Festival Mundial da Juventude.

 1962 foi um ano pleno de acontecimentos relevantes no quadro da resistência ao regime salazarista pois  pela primeira vez nas ruas do Porto e no 1º de Maio em  Lisboa são gritadas palavras de ordem contra a guerra colonial e, num tribunal de Luanda, são condenados os escritores António Jacinto, António Cardoso e Luandino Vieira a 14 anos de prisão;  nesse mesmo ano, ameaçados de novo pela polícia política, o angolano Agostinho Neto acompanhado pela família  e Vasco Cabral, numa fuga de barco organizada pelo Partido Comunista Português,  alcançam Rabat, em Marrocos.  Tendo aderido ao PAIGC participa na luta armada de libertação nacional tendo sido ministro da Economia e das Finanças do 1º Governo saído da Independência da Guiné-Bissau, proclamada unilateralmente a 24 de Setembro de 1973 na sequência do assassinato de Amílcar Cabral. Fundador  da União Nacional de Escritores da Guiné –Bissau, morre a 24 de Agosto de 2005,  em Bissau.

A sua poesia acha-se publicada na Antologia poética da Guiné-Bissau / União Nacional dos Artistas e Escritores da Guiné-Bissau (Lisboa, Editorial Inquérito, 1990); África: Literatura. Arte. Cultura sob a  direcção de  Manuel Ferreira (Lisboa, África Editora, L.da. - Vol. I, n.º 5; ano II (Jul-Set), 1979); Antologia: Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe: poesia e conto, selecção  e organização de Lúcia Cechin (UFRGS, Porto Alegre, 1986); as suas alocuções,  discursos e colóquios nomeadamente sobre Amílcar Cabral e sobre a colonização da Guiné acham-se publicadas em Soronda - Revista de Estudos Guineenses.

 

A Luta é a minha primavera

 

A luta

É a minha

Primavera

 

Sinfonia de vida

O grito estridente dos rios

A gargalhada das fontes

 

O cantar das pedras

E das rochas

O suor das estrelas

 

A linha harmoniosa dum cisne!

 

Vasco Cabral começa a escrever poemas na prisão, em 1953, poemas que já depois da independência da sua pátria reunirá num volume que intitulou precisamente A Luta é a minha primavera.

Ao lermos este poema não podemos deixar de sentir com quanto despojamento se manifesta o despertar de uma energia feita de desprendimento de si e de total entrega. Na sua solidão essencial, há neste homem, preso mas pronto para o combate, a abundância primaveril das grandes forças da natureza: a da água que estridente se solta pelos rios abaixo e a que jorra das fontes. Mais do que  fecundar a terra,  água é  a linguagem da fluidez invadindo o espaço, grito e gargalhada sonorizando as paisagens mudas. O homem que no combate vai suar o suor das estrelas longínquas,  está mais perto do céu do que da terra e,  inamovível no seu ideal, o seu canto é igual ao das pedras e das rochas. Frescura, clareza e pureza eis o que caracteriza a linguagem do espírito novo para que nasça uma nova vida. A vida para o prisioneiro passa, infinita e informe fora e dentro das grades da prisão. Contudo, algo se move, algo busca uma forma, e não é apenas um homem, um poeta cujo canto se ergue sobre searas de desolação a proclamá-lo , é também um povo que em breve se erguerá numa luta de libertação nacional. Em Discours Antillais, Édouard Glissant, numa clara alusão aos espoliados e oprimidos, conclui, neste seu ensaio, que “O homem, não é uma mera cana que pensa, mas, segundo Shakespeare, é uma floresta que marcha”.

Geração sacrificada a um ideal, o cisne deste poema é a metáfora  de uma forma harmoniosa. Seja qual for a cor da sua pele, o cisne, símbolo de luz, representa o ideal de brancura e de graça do guerrilheiro no seu combate por uma causa nobre, a causa da libertação de um povo por um futuro de paz e no achamento de uma felicidade terrestre para cada homem, mulher e criança.

 

 

O Projeto Editorial Banda Lusófona foi criado em janeiro de 2010, como complemento ao Projeto Editorial Banda Hispânica. Assim o Jornal de Poesia integra em sua plenitude a poesia de línguas portuguesa e espanhola. Aqui registraremos criação e reflexão, reunindo autores de distintas gerações e tendências, inclusive inéditos em termos de mercado editorial impresso. Aqueles poetas que desejem participar devem remeter à coordenação geral seus dados bibliográficos, seleção de 10 poemas e resposta ao seguinte questionário:

     1. Quais são as tuas afinidades estéticas com outros poetas de língua portuguesa?
    2. Quais são as contribuições essenciais que existem na poesia que se faz em teu país que deveriam ter repercussão ou reconhecimento internacional?
     3. O que impede uma existência de relações mais estreitas entre os diversos países de língua portuguesa?

Todo este material deve ser encaminhado em um único arquivo em formato word, para o seguinte e-mail: agulha.floriano@gmail.com. Agradecemos também o envio de uma fotografia (jpg), assim como de textos críticos, livros de poesia e material jornalístico sobre o mesmo tema. O Projeto Editorial Banda Lusófona é uma fonte de informações que reflete, sobretudo, a ampla generosidade de todos aqueles que dele participam. O acesso a cada país deve ser feito através do selo correspondente.

 
JORNAL DE POESIA ACERVO GERAL BANDA LUSÓFONA EDIÇÕES CURURU

 

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Ficha Técnica

Projeto Editorial Banda Lusófona
Janeiro de 2010 | Fortaleza, Ceará - Brasil
Coordenação geral & concepção gráfica: Floriano Martins.
Direção geral do Jornal de Poesia: Soares Feitosa.
Projetos associados: Revista La Otra (México) | Ediciones Andrómeda (Costa Rica) | Revista Blanco Móvil (México) | Triplov (Portugal).
Cumplicidade expressa: Alfonso Peña, Eduardo Mosches, Gladys Mendía, José Ángel Leyva, Maria Estela Guedes, Soares Feitosa e Socorro Nunes.
Contatos:
Floriano Martins bandahispanica@gmail.com | floriano.agulha@gmail.com.
Soares Feitosa: soaresfeitosa@secrel.com.br | soaresfeitosa@uol.com.br.
Agradecemos a todos pela presença diversa e ampla difusão.