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BANDA LUSÓFONA | PORTUGAL

Teixeira de Pascoaes | (1877-1952)

Teixeira de Pascoaes nas palavras de Mário Cesariny de Vasconcelos

António Cândido Franco

Conheceu pessoalmente Teixeira de Pascoaes?

– Estive com ele em Amarante, em 1950.

Decidiu ir a Amarante, conhecer Teixeira de Pascoaes, sem mais?

– Quem me levou foi o Eduardo de Oliveira, o autor de Monólogo, um tipo extraordinário, fora do vulgar, que parece que foi de bicicleta para Paris. [1] Conheci os Oliveiras (O Eduardo e o Ernesto) através do Eugénio de Andrade, que era muito amigo deles. O Pascoaes fazia uma conferência no Teatro Amarantino sobre Guerra Junqueiro. [2] Deu-me no fim a conferência impressa em livro com a dedicatória, “Ao meu querido confrade…” e seguia-se o meu nome. Conheci portanto o Pascoaes e ouvi-o falar durante mais duma hora. Mas nessa altura eu não sabia ainda quem ele era.

Que lera de Teixeira de Pascoaes, quando o conheceu, no ano de 1950?

– Apenas o Regresso ao Paraíso. [3] Era pouco, mas dava para perceber a importância dele. De qualquer maneira, estava muito longe naquela época de perceber a verdadeira importância do Pascoaes. Pressentia apenas que se tratava dum poeta invulgar, mas pouco mais.

Quando se deu conta que Teixeira de Pascoaes era Teixeira de Pascoaes, quer dizer, para si, um poeta mais importante que Fernando Pessoa?

– Isso foi muito mais tarde. Eu li e leio na velhice o que devia ter lido aos dezasseis anos. Olhe, o René Daumal, por exemplo, só agora o vou ler. Tenho ali há anos o Mont Analogue e nunca tive paciência para o ler. Com o Pascoaes passou-se o mesmo. Só o descobri a sério já haviam entrado os anos sessenta.

A edição crítica da obra de Teixeira de Pascoaes – cinco volumes de versos e seis de prosa, publicados entre 1965 e 1975 – começada a publicar nessa altura, organizada por Jacinto do Prado Coelho, teve para si alguma importância nessa descoberta?

– Muita. Tenho-a toda. E sabe que nunca lhe pagaram nada por aquele trabalhão todo? Nada, nem um tostão. Nem a ele, nem à família do Pascoaes.

E o livro de Alfredo Margarido, dedicado a Teixeira de Pascoaes, publicado em 1961, não ajudou em nada à descoberta do Pascoaes?

– Ajudou. Tenho dois exemplares do livro. Foi lá que dei com a máscara do Pascoaes pintada pelo Columbano. É reveladora.

E o livro do Olívio Caeiro, Albert Vigoleis Thelen no Solar de Pascoaes, dedicado  às relações de Teixeira de Pascoaes com o seu tradutor alemão!

– Também. Mas esse só veio vinte anos depois, em 1980. [4]

Quando foi a primeira vez a São João de Gatão, à casa de Pascoaes, que o Olívio Caeiro chama solar mas que Pascoaes chamava apenas casa?

– Em 1950, com o Eduardo de Oliveira, [5] na altura da conferência sobre Guerra Junqueiro. Os Oliveiras eram muito amigos de Pascoaes; já o pai deles, o médico Vasco Oliveira, o era. Vinha de família a amizade. Fomos a Gatão e a impressão que me ficou foi conventual. Não havia um único móvel na casa. Foi aí que o Pascoaes me assinou o exemplar da conferência. “Ao meu querido confrade…”, escreveu ele. Voltei nos anos sessenta e fiquei muito amigo do João Vasconcelos e da Maria Amélia, que tinham a casa com eles. Depois disso voltei muitas vezes. O João morreu em 1985 e a Maria Amélia ainda lá vive. [6]

Como conheceu o João Vasconcelos, filho de João Teixeira de Vasconcelos, irmão de Teixeira de Pascoaes e herdeiro da casa de São João do Gatão?

– Isso passou-se há quarenta anos. Não consigo lembrar-me. Tudo o que sei é que o D’Assumpção, que também visitou muito a casa de Gatão e lá trabalhou às temporadas, o conheceu depois de mim.

Os seus companheiros do grupo “Os Surrealistas” conheciam Teixeira de Pascoaes?

– Enviei ao António Maria Lisboa o Regresso ao Paraíso, que tinha e que lera. Há carta dele notificando o envio. [7] Fomos os dois aos Fenianos, no centro do Porto, ler o Erro-Próprio, manifesto-conferência do Lisboa. Tenho pena que o Teixeira de Pascoaes não estivesse na assistência. Se estivesse, tinha começado aos saltos. O Seixas [Cruzeiro Seixas] também leu o Pascoaes por meu intermédio. Publicámos os dois os Aforismos, numa colecção em que saíram três cadernos. Não tenho nenhum. Nem um exemplar.

Publicou em 1972 com o Cruzeiro Seixas os Aforismos e no mesmo ano a Poesia de Teixeira de Pascoaes. Como é que esta segunda antologia aconteceu?

– Foi um convite da Natália Correia, que estava então na editora Estúdios Cor.

Os surrealistas do café Gelo, que se manifestaram no fim da década de cinquenta e na seguinte, conheceram e leram Teixeira de Pascoaes?

– Deve haver referência do Ernesto Sampaio ao Pascoaes. [8] Mas mesmo o Ernesto Sampaio não leu o Pascoaes todo. A geração do Gelo tentou ser surrealista debaixo duma ditadura fascista. O abjeccionismo deles está mais próximo do existencialismo que do surrealismo. Se petiscaram alguma coisa do Pascoaes foi por aí. O mesmo para o Alfredo Margarido.

Qual o livro que mais lhe interessa de Teixeira de Pascoaes?

– O São Paulo é forte, mas o São Jerónimo é ainda bem melhor. Foi com esses dois livros que ele conheceu o Albert Vigoleis Thelen, seu tradutor na Alemanha e na Holanda. Sabe que o Pascoaes tinha uma redoma em vidro para assistir às tempestades? Aquilo é que lhe dava a energia mental fantástica que ele tinha.

E o que diz, Mário Cesariny, de Santo Agostinho, a última hagiografia, de 1945?

– A Santa Mónica bêbeda, não é? Nunca consegui acabar o livro, porque aquilo é cá uma saraivada de granizo… Ficamos cheios de buracos e o meu corpo já não aguenta tanta pedra. Devia-o ter lido na sua idade ou mais novo ainda. Agora é tarde. Li-o no entanto o suficiente para me aperceber da sua importância. O Pascoaes deve-o ter escrito numa altura em que magnetizou várias tempestades.

E o Duplo Passeio?

– É um livro raro. Mas o melhor do Pascoaes é o Bailado. Tenho-o na primeira edição, encadernado e tudo. Foi o livro que me revelou a força poética que havia no Pascoaes. É o livro dele a que estou mais ligado.

Recorda-se na segunda parte do Duplo Passeio da cena da catedral onde São Jerónimo desce duma tela e vem dançar feito esqueleto, de cálice na mão, com uma prostituta?

– Sim. Nunca conseguiram converter o Pascoaes ao catolicismo romano, ou mesmo tão-só ao catolicismo. Foi sempre um herético. Por isso é que preferem o Leonardo Coimbra, que foi muito amigo do Pascoaes mas se acabou por converter à Igreja, coisa que nunca aconteceu com o Pascoaes.

Refere-se a quem?

– A Mário Garcia, por exemplo, que sabe muito sobre Pascoaes. O livro dele é bom, [9] mas no fim o Leonardo parece sair mais valorizado que o próprio Pascoaes, a quem é dedicado o livro.

Não valoriza a Filosofia Portuguesa?

– Não valorizo, nem desvalorizo. Prefiro chamar-lhe a filosofia dos portugueses. [10] Como movimento não me interessa; enquanto obra de personalidades independentes, sim. Olhe o Agostinho da Silva é forte, apesar daquilo vir também de outro lado qualquer, que ainda não se percebeu onde fica. E os estudos de António Telmo são muito bonitos. É o mínimo que se pode dizer.

Foram eles que mais falaram do Teixeira de Pascoaes quando todos se calavam?

– É verdade, apesar dalguns deles falarem muito do Pascoaes, para depois virem dizer, como o Mário Garcia, que o Leonardo é melhor.

Leu o Leonardo Coimbra?

– Sim, o Criacionismo, onde ele fala do Pascoaes. Tem coisas boas, mas não me convenceu. Pelo menos não me convenceu tanto como o Pascoaes, que foi uma revelação tremenda.

Por que razão o Mário Cesariny, tendo conhecido Teixeira de Pascoaes em 1950, só vinte anos depois é que se apercebe da sua importância?

– Eu comecei como neo-realista e o neo-realismo era uma escola de preconceitos muito rígidos. Não nos deixava ler isto e não nos deixava fazer aquilo e aqueloutro. Era uma orquestra de proibições. Fui muito marcado por isso.

Mas o Mário Cesariny depressa se libertou da influência neo-realista…

– Houve coisas que ficaram no subconsciente. O aspecto reactivo ao Pascoaes deve ter sido uma delas, tanto mais que vinha de antes. Foi das coisas mais duras de roer ao longo da segunda metade do século XX em Portugal. Ainda hoje você sabe como é. Pascoaes é persona non grata. Ainda bem!

Sabe que Óscar Lopes (v. entrevista ao jornal Público, a propósito da décima sétima edição da História da Literatura Portuguesa) [11] já deixou de considerar o Mário Cesariny um poeta irregular, para o juntar agora a Teixeira de Pascoaes, a quem considera um escritor provinciano, de terceira classe, uns furos abaixo do Malheiro Dias?

– Desconhecia. Mas sinto-me muito honrado com a companhia. Não podia estar melhor.

Há quem diga que o Cesariny, hoje com 74 anos, se parece fisicamente cada vez mais com Teixeira de Pascoaes, que desapareceu deste mundo aos 75 anos?

– Só posso atribuir isso a um fenómeno surrealista, o acaso objectivo, a que nós aqui, em português, chamamos coincidências alarmantes.

Por falar em “fenómeno surrealista”, que é feito do surrealismo hoje?

– O surrealismo é sempre de hoje, nunca de ontem. Nada é tão mistificador como falar da actualidade ou da inactualidade do surrealismo. O surrealismo é de hoje, mas inactual, tão inactual como um índio o pode ser. A actualidade é pequenina e sempre de ontem. Viu, há pouco, o livro do René Guenon, que o António Barahona me deu para eu perceber como se pode ultrapassar o Breton por cima? A única coisa que vi é que o Breton é inultrapassável.

A propósito do António Barahona, conhece o opúsculo dele, Os Dois Sóis da Meia-Noite, publicado em 1990, e dedicado a Pascoaes e a Camões?

– Talvez o António tenha começado a ler o Pascoaes há mais de trinta anos, no tempo do Gelo e da edição das Obras da Bertrand, por indicação minha. Mas hoje aquilo é dele.

Como se manifesta hoje o movimento surrealista?

– Existe um grupo em Paris, este um bocado fantasma; outro nos Estados Unidos e outro em Madrid. Este de Madrid não é fantasma, é fantástico. Tem uma publicação regular, de excelente qualidade, apesar das relações com a imprensa estarem obstruídas. O surrealismo está vivo, mas oculto, como acontece de resto com Teixeira de Pascoaes. Daqui a cem anos será diferente.

Teixeira de Pascoaes e Fernando Pessoa?

– Pessoa tinha uma mesa de café para escrever e a rua com os carros. Pascoaes tem um castelo e uma serra de bronze, mesmo em frente. O que é que você escolhe?

Compreendo. Quer dizer mais alguma coisa de importante sobre Teixeira de Pascoaes?

– É preciso arranjar uma fotografia do Zé Cobra. O Zé Cobra foi o criado particular do Pascoaes. O Pascoaes foi padrinho duma filha dele, a Adelaide, que chegou a herdar terras e manuscritos do padrinho. É uma figura até hoje sem rosto. [12]

 

NOTAS

1. Eduardo de Oliveira, irmão do antropólogo Ernesto Veiga de Oliveira e filho do médico Vasco Nogueira de Oliveira [que salvou no limite, com uma troca de radiografias, o exilado Albert Vigoleis Thelen, tradutor de Pascoaes, de ser mobilizado nos meses finais da guerra pelo estado-maior alemão (v. Na Sombra de Pascoaes, p. 81, Maria José Teixeira de Vaconcelos e Cartas de Thelen a Pascoaes p. 41-2 )]. Deu à estampa no século passado (1957-63-83) três volumes dum diário, Monólogo, sempre em edição de autor, que começa em Dezembro de 1942 e termina, infelizmente para aquilo que aqui nos interessa (relações de Mário Cesariny e Teixeira de Pascoaes) em  Dezembro de 1948. Não há pois referências no diário de Oliveira ao encontro de 1950 entre Pascoaes e Cesariny. Pascoaes fez nesse ano, o do centenário do nascimento de Guerra Junqueiro, duas conferências sobre o autor de Pátria, a primeira em Março no Teatro Amarantino (deu o livrinho Guerra Junqueiro), Amarante, e a segunda em Agosto, na Casa Guerra Junqueiro, Porto (resultou no Drama Junqueireano). Mário Cesariny terá estado com Eduardo de Oliveira na primeira, Amarante, mês de Março de 1950 [o que se confirma pela carta XVIII de António Maria Lisboa (v. “Uma Bibliografia”)] O monólogo, acabando em 1948, tem ainda ainda assim muita vida para se aceder ao mundo de Pascoaes. Toca-me em especial  a entrada de 15 de Fevereiro, 1942 (vol. I, pp. 69-78), em que Oliveira narra o seu primeiro encontro com Pascoaes aos dezasseis anos, por volta de 1922 ou 1923. Desse primeiro encontro retenho o seguinte, que é fulgurante para se perceber a mão admirável e admirativa que levou pela primeira vez Cesariny a Pascoaes: Eu pouco disse, se é que disse mesmo alguma coisa. Nem falar sabia. Ouvi, e não ouvi. O que sei e me lembro, perfeitamente, é que desde aquele momento fui do Pascoaes (p. 74). E ainda: Essas tardes de Pascoaes, dos meus dezassete, dezoito anos, em que o poeta nos lia a nós mais novos, que o ouvíamos, sem um gesto, nunca mais as saberei esquecer. Assim soubesse eu traduzi-las (p. 76). E mais: Eu, como rapaz irreverente e fogoso, devo tê-lo magoado e chocado muitas vezes. O Pascoaes para comigo é que nunca teve um único gesto mais duro, ou injusto, que me ferisse. E eu saía sempre da sua beira, lavado em lágrimas (p. 77). Foi este incondicional de Pascoaes, que se lavava em lágrimas quando dele se despedia, que apresentou Mário Cesariny a Teixeira de Pascoaes. Conheço uma única (mas essa fabulosa) fotografia de Eduardo de Oliveira (ou Eduardo Veiga de Oliveira) com Teixeira de Pascoaes. Lá se vê o autor do Monólogo, ensimesmado, tristonho, óculos finos, braço e mão  apertando os ombros magros e vivazes de Teixeira de Pascoaes (in Na Sombra de Pascoaes, Maria José Teixeira de Vasconcelo, 1993).

2. Deu origem ao opúsculo Guerra Junqueiro, com o texto da conferência proferida no Teatro Amarantino, a 19 de Março de 1950 (edição da Casa dos Bombeiros de Amarante). Cesariny, mais tarde, em “Para uma Cronologia do Surrealismo Português” (v. “Uma Bibliografia”), toma Junqueiro como fonte da revolução (e da revelação) surrealista (em português). Assim: Guerra Junqueiro, numa anti-clerical e anti-monárquica intervenção poética que teria a sanção do regicídio de 1908 e a implantação da República em 1910. (p. 261) Natália Correia retomará: Repudiado o fluxo junqueiriano pela vanguarda modernista (…), volta ela a interferir nos valores da vanguarda surrealista que não poderá alhear-se dum supernaturalismo em certas coordenadas da obra de Junqueiro. (Colóquio-Letras, nº 14, 1973)

3. Decerto por intermédio de Eduardo Oliveira, que cita várias vezes o livro no seu monólogo como umas das grandes realizações poéticas e especulativas de Teixeira de Pascoaes.

4. Lastimo muito não ter insistido com o entrevistado na figura de Albert Vigoleis Thelen, tradutor alemão de Pascoaes. Que me lembre, nunca lhe pedi uma palavra sobre o tudesco. Thelen, que começou com elmo cervantino, acabou faceto mas rabaceiro, com as ruças pantalonas vicentinas, essas que faziam as delícias de Cesariny. A ideia de fazer um livro com as epístolas de Thelen a Pascoaes (v. “Uma Bibliografia”) foi de Cesariny (o trabalho foi depois meu, por pedido do Manuel Hermínio Monteiro). Está por fazer agora o livro das cartas de Teixeira de Pascoaes a Albert V. Thelen (e as cartas estão à mão, depositadas na Biblioteca Nacional, prontas para a recolha).

5. Está por fazer a carta das relações entre Eduardo de Oliveira, Teixeira de Pascoaes e Mário Cesariny. Muitas das entradas cronológicas do diário de Oliveira estão encimadas pela identificação: Sobreiro–Barca do Lago. Desta casa me falaram Mário Cesariny e Pedro Van Zeller, filho de Maria Fernanda Vilalva de Magalhães. Noutra ocasião, Cesariny afirmou-me que conheceu a casa da Barca do Lago – logo Eduardo de Oliveira – pela mão de Eugénio de Andrade (que lhe financiou no mesmo ano, 1950, a edição do primeiro livro, Corpo Visível). Assim como assim, o Teixeira de Pascoaes do autor de As Mãos e os Frutos (cuja fonte é também Eduardo de Oliveira), mais farófia que pedra, não coincide no pouco ou no muito, tal como o mais cispado de Sena, com o de Cesariny.

6. De João Vasconcelos (1931-1985), sobrinho de Teixeira de Pascoaes, herdou Mário Cesariny o cavalete [ver uma carta de Mário Cesariny a Maria José Teixeira de Vasconcelos (in “Anexo”)]. Maria Amélia, viúva de João Vasconcelos, desvelava-se por extremar a casa de Pascoaes, propriedade sua, no momento em que Cesariny falava e ainda hoje, treze anos depois (Janeiro de 2010), se desvela por exaltar.

7. Ver Poesia de António Maria Lisboa, 1977, carta XVIII, p. 265 (v. “Uma Bibliografia”).

8. Há e adrede. Está logo no texto átrio de Luz Central, primeiro livro do autor, publicado aos vinte dois ou vinte três anos. A propósito de expressão sua –  recuperar o maravilhoso Paraíso Perdido [1990, p. 56 (v. “Uma Bibliografia”)] – Sampaio abre nota de rodapé para citar passagens (entre a esperança titânica da libertação e o desespero dos ciclos sufocantes que se repetem) de Regresso ao Paraíso, entre elas os enigmáticos versos finais. Estávamos em 1957 ou 1958; Cesariny, que lera antes de 1950 o poema, dera-o logo depois a conhecer a António Maria Lisboa, que lho agradece em carta de Março de 1950 (v. Poesia de António Maria Lisboa, 1977, carta XVIII, p. 265). Isso mesmo assevera Cesariny no exórdio da sua antologia magna de Pascoaes, em 1972. Por este mesmo trilho se apreende a chegada do poema ao livro da magnífica estreia de Sampaio, onde aparece ao lado de Eliphas Levi, por sua vez autor (de) cabeceira de António Maria Lisboa. Cruzeiro Seixas, muitos anos depois, em carta de 2009 (v. infra “Teixeira de Pascoaes nas Palavras de Cruzeiro Seixas”, nota 26), haveria de citar, para espanto meu, os versos de abertura do mesmo poema, mostrando assim a fixação dos surrealistas portugueses com esse poema (Cesariny, Lisboa, Sampaio, Seixas). A ideia de regresso ao paraíso, que se mistura à de grande obra ou obra hermética em Sampaio, não é porém (apenas) portuguesa; logo no jovem Breton, e depois no menos jovem, podemos encontrar a rutilação dessa estrela maior, em passagens que conviria coar e confrontar com as portuguesas.

9. Mário Garcia, Teixeira de Pascoaes. Contribuição para o estudo da sua personalidade e para a leitura crítica da sua obra, apresentação de Mário Martins, Braga, Publicações da Faculdade de Filosofia, 1976. É livro de valor, como também o é o de Jorge Coutinho (O Pensamento de Teixeira de Pascoaes, 1995), seu colega na Universidade Católica de Braga. Mário Garcia, mais recentemente, publicou ainda, Um Olhar sobre Teixeira de Pascoaes (Braga, 2000).

10. Sobre a Filosofia Portuguesa é ver a nota 40 deste sumário rememorativo, onde muito se fala dela.

11.  “Não há hoje um Eça de Queirós”, entrevista a Luís Miguel Queirós, in Público, Lisboa, nº 2176, suplemento “Leituras e Sons”, 24 de Fevereiro, 1996, pp. 1-4. Não há referência na entrevista a Mário Cesariny, tão-só a Teixeira de Pascoaes. Sobre este, é lopada aleivosa. Transcrevo: Não, não, o Pascoaes é de terceira ordem. Falo de um escritor que tem bastante mérito, apesar das suas fraquezas... um monárquico... o Carlos Malheiro Dias, aí está! Que cuco! A irregularidade de Cesariny, o sem grande fôlego, encontra-se na História da Literatura Portuguesa (menos ou mais dissimulado, consoante a edição). Diz Luiz Pacheco, a propósito desta: o baralhado Manual de Literatura do patareco do Óscar Lopes (...) aquilo está cheio de lapsos, erros, inverdades. [“Cesariny: o abismo”, in Figuras, Figurantes e Figurões, 2004 (p. 92)]

12. Cesariny, em 2002, no cemitério de Gatão, quando passavam cinquenta anos sobre o falecimento de Pascoaes, viu (testemunhei eu) uma fotografia do Zé Cobra, caseiro em Pascoaes e pai da Adelaidinha, afilhada do Poeta.

Capítulo do livro Teixeira de Pascoaes nas palavras do surrealismo em português, de António Cândido Franco (Editorial Lincorne, Portugal, 2010). Reprodução autorizada pelo Autor.

 

 

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