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COORDENAÇÃO EDITORIAL   |   SOARES FEITOSA | FLORIANO MARTINS
2000-2010
 

 

 

BANDA LUSÓFONA | BRASIL

Ruy Espinheira Filho | (1942)

A lírica de Ruy Espinheira Filho

Floriano Martins

Em uma entrevista com Juan Calzadilla, disse o poeta venezuelano que não pode o poeta “ter uma visão normal de homem e uma visão de poeta como se tivesse duas vidas, duas maneiras de ser”, e acrescenta: “Na vida dos grandes poetas a poesia está refletida em todos os instantes vitais”. Embora haja aí uma declarada obviedade, o fato é que esta pouco se coaduna com a realidade brasileira, tão afeita aos burocratas do verso ou mesmo a torpes caça-prêmios. Por sua profundíssima identificação com o humano, com as forças a um só tempo singelas e potentes do ser, o poeta encontra-se com igual caráter tanto em seus versos como em seus mínimos gestos e atitudes. E trata-se mesmo disto: a expressão de um caráter.

Desta pequena verdade são feitos os versos e toda a poesia que define a existência de Ruy Espinheira Filho. E vêm daí justamente o memorialismo e a força lírica de sua poética, entranhada no recorte de cenas que lhe compuseram os dias, os sonhos, paixões e angústias. Ao longo de três décadas, o baiano Ruy Espinheira Filho vem tecendo uma enérgica e emocionante obra, transcendendo quaisquer limites impostos pela moda e outros maus hábitos de nossa fútil contemporaneidade. Sim, a história mais recente da poesia brasileira é pautada por um misto de servilismo e empáfia - dois caprichosos disfarces da vaidade, afinal - que a inscrevem em um círculo de futilidades. E contra esta degradante realidade é que se fixa e amplia a poética de Espinheira Filho.

Nascido em Salvador, em 1942, foi cronista do jornal Tribuna da Bahia, durante um largo período: 1969 a 1981 - alguns desses textos foram coligidos em livro: Sob o último sol de fevereiro (1975). Jornalista de profissão, tornou-se professor, nesta área, na Universidade Federal da Bahia. Por ocasião de sua conclusão de curso, publicou um valioso estudo sobre Jorge de Lima. Iniciou-se na poesia com a publicação de Poemas (1973), em parceria com outro importante poeta baiano, Antonio Brasileiro. No ano seguinte, publica Heléboro, já aí definida a sutileza entranhável de seu lirismo. Em 1981 ganhou o Prêmio Cruz e Souza, com o livro As sombras luminosas.

Sua contribuição à imprensa, em Salvador, é bastante considerável, pela força de uma voz que se insurgia severamente contra a hipocrisia reinante em nossa cena cultural. Publicou ainda os seguintes livros: Julgado no vento (1979), A canção de Beatriz (1990), Memória da chuva (1996) e Livro de sonetos (1998). Além disto escreveu ainda novelas, romances e contos. Também saíram algumas antologias poéticas, a exemplo de Antologia breve (UERJ, 1995) e Antologia poética (Fundação Casa de Jorge Amado.

Parte disto é o que encontramos agora sob o título de Poesia reunida e inéditos (1998). As informações mínimas que traço acima deveriam constar da edição do livro, o que infelizmente não acontece. Se o selo Record garante uma boa circulação e a poesia de Ruy Espinheira Filho basta a si mesma como expressão consolidada e sugestiva, o leitor comum - aquele que buscam todos os poetas - fica desassistido diante da absoluta falta de dados acerca do autor que tem diante de si. Não é mínima esta falha quando temos finalmente a oportunidade de um importante poeta brasileiro circular nacionalmente.

Ruy Espinheira Filho iniciou a publicação de sua poesia pelas mãos de Ênio, um dos raros editores brasileiros a considerar esteticamente os originais chegados à sua mesa. Ciente disto, recorto aqui uma observação do próprio poeta: “nossos editores parecem não perceber o grande mal que seu radical pragmatismo está fazendo à cultura do país”, ao que acrescentava: “Não só escritores já provados estão sendo desconsiderados, como está havendo um sério comprometimento da renovação”. Seguramente a razão disto atraca em nosso passado colonial. Entre outras idiossincrasias, perdura entre nós a de um capitalismo sem risco. Talvez isto explique tanta forma sem conteúdo e mesmo um rarefeito conteúdo carente de forma.

Quando da publicação de As sombras luminosas (1981), Ivan Junqueira referiu-se ao apuro lírico da poesia de Ruy Espinheira, que tratava, segundo ele, a metalinguagem tão-somente como recurso e não como essência poética - por sinal, ardil que tem levado por terra muitos poetas brasileiros. Quinze anos depois, com a publicação de Memória da chuva (1996), Alexei Bueno destacou a confirmação absoluta desta expressão lírica. O próprio Espinheira Filho considera-se seguidor de uma tradição lírica da poesia brasileira afeita ao mergulho “na humana angústia, na humana alegria, na humana perplexidade, no humano desespero, na humaníssima esperança”.

Celebrada coerentemente por críticos como Fábio Lucas, Carlos Felipe Moisés, Cláudio Willer, Ivan Junqueira, Rubens Figueiredo, a poesia de Ruy Espinheira Filho alcança agora um momento decisivo em sua difusão. Poesia reunida e inéditos configura-se como um esplendor do sentido poético que buscou imprimir o autor à sua obra. Uma mesma e digna densidade lírica atravessa todas as páginas, toda uma vida. A exemplo do que diz o próprio poeta: “em carne rubra e cicatriz, / entrego à cor profunda que me espera / estes despojos em que sou feliz”. Assim com toda a vida e a poesia de Ruy Espinheira Filho.

 

 

O Projeto Editorial Banda Lusófona foi criado em janeiro de 2010, como complemento ao Projeto Editorial Banda Hispânica. Assim o Jornal de Poesia integra em sua plenitude a poesia de línguas portuguesa e espanhola. Aqui registraremos criação e reflexão, reunindo autores de distintas gerações e tendências, inclusive inéditos em termos de mercado editorial impresso. Aqueles poetas que desejem participar devem remeter à coordenação geral seus dados bibliográficos, seleção de 10 poemas e resposta ao seguinte questionário:

1. Quais são as tuas afinidades estéticas com outros poetas de língua portuguesa?
2. Quais são as contribuições essenciais que existem na poesia que se faz em teu país que deveriam ter repercussão ou reconhecimento internacional?
3. O que impede uma existência de relações mais estreitas entre os diversos países de língua portuguesa?

Todo este material deve ser encaminhado em um único arquivo em formato word, para o seguinte e-mail: agulha.floriano@gmail.com. Agradecemos também o envio de uma fotografia (jpg), assim como de textos críticos, livros de poesia e material jornalístico sobre o mesmo tema. O Projeto Editorial Banda Lusófona é uma fonte de informações que reflete, sobretudo, a ampla generosidade de todos aqueles que dele participam. O acesso a cada país deve ser feito através do selo correspondente.

 
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Cumplicidade expressa: Alfonso Peña, Camilo Prado, Eduardo Mosches, Gladys Mendía, José Ángel Leyva, Soares Feitosa e Socorro Nunes.
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