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J O R N A L   D E   P O E S I A   |   F O R T A L E Z A l C E A R Á l B R A S I L
COORDENAÇÃO EDITORIAL   |   SOARES FEITOSA | FLORIANO MARTINS
2000-2010
 

 

 

BANDA LUSÓFONA | BRASIL

Roberto Piva | (1937-2010)

Roberto Piva, sem perder o samba

Floriano Martins

Roberto Piva quase sempre em sua vida foi um poeta, como ele próprio disse um dia, marginalizado. Mesmo quando o elegeram um dos marginais da poesia brasileira, pela inclusão na antologia de Heloísa Buarque de Holanda, ou mesmo agora, mais recentemente, quando da publicação de sua poesia completa em valioso projeto editorial. Um marginalizado sob muitos aspectos, por suas estranhas imagens corrosivas, pelas ações por muitos acreditadas como virulentas, pela multiplicidade voraz dos registros de sua poética – sobretudo por incompreensão e preconceito.

Poeta desprezado e cultuado com talvez idêntico grau de cegueira. Situado pela crítica em um labirinto de afinidades que não ultrapassa os lares da literatura e das artes plásticas. Embora correta a leitura de suas declaradas conexões com tais áreas, resta sempre esquecida a paixão essencial e não menos influente em sua vida que constitui a música. O próprio poeta nos dá inúmeras pistas, que vão do rock ao jazz, de Carl Orff aos tambores do candomblé, passando pelo samba-canção e o experimentalismo de John Cage.

Roberto Piva é um raro poeta brasileiro em profunda sintonia com a música, o que inclui a canção popular, em que um dos exemplos é o rock lancinante de Jim Morrison, o poeta compositor, figura emblemática da banda The Doors, mas não somente ele e sim toda uma geração lisérgica, com Brian Jones, John Lennon, Keith Moon, conexão que Piva soube filtrar juntamente com os momentos mais agudos da Beat Generation, sem se deixar apanhar ou adotar por núcleo algum, ao mesmo tempo, ele, parte de todos e nenhum.

Pensemos em Jim Morrison. Quando escutamos em Strange days o verso we shall go on playing or find a new town, ali está presente Piva com a São Paulo que soube desentranhar como uma alucinação que toca o fim do mundo e as cidades sem limites que ele evoca em seus poemas. Morrison com quem também dialoga na poesia, como sugerem as imagens de An american prayer, tanto em celebrate symbols from deep eider forests como we’re trying for something that’s already, found us. Em todos os sentidos coincide com a voz de Morrison ao dizer que a música lhe acende o instinto. A música ali está em Piva, não apenas como referência culta, como fonte de registros para um diálogo poético, mas também como parte essencial do cenário de suas tramas, presente também na vida de seus personagens, no Barney Kessel que ele próprio escuta ao escrever um poema, nos violinos enfadonhos que compõem a paisagem de Os escorpiões do sol, no porno-samba que dedica ao Marquês de Sade ou ainda no batuque dos tambores com que ele próprio se faz acompanhar ao ler sua poesia.

A imagem, a metáfora, a extravagância, a tempestade orgíaca com que povoa suas cidades-poemas, nada faz sentido longe do espaço cósmico samba-canção do nada, longe do tambor do xamã, longe do piano ocidental que Dante afinou no buraco ameno do purgatório, infinidade de notas que semeia nos ouvidos de entidades, deuses, demônios, querubins, garotos perversos, sempre queimando na própria pele de seus escritos estas palavras seminais: o mundo vive na partitura sublinhada do meu sangue o seu único esplendor. Sem música não há Roberto Piva. Seriam insuficientes as pontes que ergue entre o poético e o plástico, entre Guimarães Rosa e Di Chirico, entre as ruas que bebe com seus garotos e os cancros que denuncia na lírica de seu país. A riqueza brasileira que adverte em seus versos ganha força incessante no ritmo das linhas cortadas, na afinação de referências aparentemente díspares entre si, como uma gafieira de abismos volumosos, tornando sua poesia o que ele próprio define como um samba turbulento, o samba da luminosa escuridão de Osíris, Piva no batuque de vísceras, Sun Ra e maracatu, jazz e forró nuclear, Nelson Cavaquinho e carnaval de rua.

O poeta que deu ritmo frenético à poesia, revelando uma fonte de prazer orgíaco que é a própria matriz de cantares, evocação de deuses, festa cósmica e entrada na matéria da vida com suas estações de erros e delírios. A poesia dança com ele em sua partitura errante. Roberto Piva com sua macumba de sons e um samba temperando as tripas de seu mergulho na existência. Absolutamente música & longe de limitar-se a ela.

Abraxas

 

O Projeto Editorial Banda Lusófona foi criado em janeiro de 2010, como complemento ao Projeto Editorial Banda Hispânica. Assim o Jornal de Poesia integra em sua plenitude a poesia de línguas portuguesa e espanhola. Aqui registraremos criação e reflexão, reunindo autores de distintas gerações e tendências, inclusive inéditos em termos de mercado editorial impresso. Aqueles poetas que desejem participar devem remeter à coordenação geral seus dados bibliográficos, seleção de 10 poemas e resposta ao seguinte questionário:

1. Quais são as tuas afinidades estéticas com outros poetas de língua portuguesa?
2. Quais são as contribuições essenciais que existem na poesia que se faz em teu país que deveriam ter repercussão ou reconhecimento internacional?
3. O que impede uma existência de relações mais estreitas entre os diversos países de língua portuguesa?

Todo este material deve ser encaminhado em um único arquivo em formato word, para o seguinte e-mail: agulha.floriano@gmail.com. Agradecemos também o envio de uma fotografia (jpg), assim como de textos críticos, livros de poesia e material jornalístico sobre o mesmo tema. O Projeto Editorial Banda Lusófona é uma fonte de informações que reflete, sobretudo, a ampla generosidade de todos aqueles que dele participam. O acesso a cada país deve ser feito através do selo correspondente.

 

 
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Projeto Editorial Banda Lusófona
Janeiro de 2010 | Fortaleza, Ceará - Brasil
Coordenação geral & concepção gráfica: Floriano Martins.
Direção geral do Jornal de Poesia: Soares Feitosa.
Projetos associados: Revista La Otra (México) | Ediciones Andrómeda (Costa Rica) | Revista Blanco Móvil (México) | Edições Nephelibata (Brasil).
Cumplicidade expressa: Alfonso Peña, Camilo Prado, Eduardo Mosches, Gladys Mendía, José Ángel Leyva, Soares Feitosa e Socorro Nunes.
Contatos:
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Soares Feitosa: soaresfeitosa@secrel.com.br | soaresfeitosa@uol.com.br.
Agradecemos a todos pela presença diversa e ampla difusão.