P R O J E T O   E D I T O R I A L   B A N D A   L U S Ó F O N A

 

 

J O R N A L   D E   P O E S I A   |   F O R T A L E Z A l C E A R Á l B R A S I L
COORDENAÇÃO EDITORIAL   |   SOARES FEITOSA | FLORIANO MARTINS
2000-2010
 

 

 

 

BANDA LUSÓFONA | PORTUGAL

José-Alberto Marques | (1939)

O agridoce da verbo-experimentalidade em José-Alberto Marques

 

Fernando Aguiar

 

Não me recordo em que ano terá sido, mas nunca esqueci aquela sensação de abrir o livro e surgir uma página espelhada, onde o meu rosto aparecia numa mancha vagamente nublada. E o encanto de ler as linhas de um romance que nem parecia sê-lo ou então que o era de um modo diferente, estimulante.

Sei que durante uns dias li pausadamente as frases (versos?) da “Sala Hipóstila” de José-Alberto Marques, que talvez já conhecesse (ou foi depois?) de outro livro que, na altura, foi uma revelação.

Estou a referir-me à “Antologia da Poesia Concreta em Portugal”, organizada juntamente com o E. M. de Melo e Castro, que continha um mundo de descoberta e de criatividade que me trazia a motivação do algo de novo que eu procurava para confirmar e dar continuidade ao primeiro livro de poesia experimental de que tive conhecimento (na altura o termo nem era muito usado, essa poesia era ainda “concreta”) – “Mais Exacta Mente P(r)o(bl)emas”, do António Aragão. Isto em oposição a uma poesia verbal que, apesar da inequívoca qualidade dos vários poetas que então lia, deixava de fora a possibilidade de aliar a minha formação de designer, que adquiria na altura, com a vontade de me expressar poeticamente.

Esses livros, aos quais entretanto juntei os da Ana Hatherly, os do E. M. de Melo e Castro, e os do Alberto Pimenta, sobretudo esses, deram-me as bases históricas e teóricas para finalmente produzir criativamente a arte que me entusiasmava e que ficava algures entre a literatura e as artes plásticas. Era exactamente nessa terra de ninguém que eu queria criar, e esses dois livros do José-Alberto Marques (do qual mais tarde li outros) estiveram entre os fundamentais na minha formação poético-plástica.

Mas se não consigo recordar em que altura li pela primeira vez a “Sala Hipóstila”, lembro-me perfeitamente quando é que conheci o José-Alberto Marques: em Setembro de 1983, quando comecei a organizar juntamente com o Silvestre Pestana a antologia “Poemografias – Perspectivas da Poesia Visual Portuguesa”, publicado pela Ulmeiro no início de 1985.

Desde logo a minha admiração pelo poeta se transformou em amizade que se foi fortalecendo ao longo dos anos, como atesta a presença do José-Alberto em todas as actividades (exposições, antologias, colaboração em revistas, etc.), que fui coordenando sobretudo nas décadas de 80 e 90, onde a sua originalidade e inventividade estiveram sempre presentes, mostrando a maior disponibilidade para colaborar em todos esses projectos.

Ao contrário de muitos dos poetas verbais que têm, normalmente, uma certa incapacidade para dizer os seus poemas em público, praticamente todos os poetas experimentais têm uma reconhecida aptidão para interpretarem aquilo que escrevem, e o José-Alberto Marques é um bom exemplo do que acabo de afirmar. Consegue valorizar os seus poemas através da forma que os diz, e consegue ir mais além, com as performances poéticas que tem realizado ao longo dos anos. A última que vi – excelente – foi em Torre de Moncorvo, durante a I Bienal de Poesia do Vale do Côa. Mas realizou muitas mais, diferentes umas das outras, mas sempre com a poética como fio condutor.

É reconhecida a qualidade do seu trabalho como poeta verbo-experimental e como romancista. A série “Homeóstatos” é, para mim, um dos conjuntos de poemas, lírica, conceptual e estruturalmente mais conseguidos da fase “histórica” da poesia experimental.

Devo também referir a satisfação de se ter descoberto num jornal escolar que esteve exposto na secção documental da exposição “O Experimentalismo Português 1964-1984”, no Museu de Serralves, em 1999, um poema concreto publicado pelo José-Alberto Marques em 1958, intitulado “Solidão”, e que pela data configura o mais antigo poema concreto publicado em Portugal.

O facto de ter sido publicado em 1958, no ano anterior a Ana Hatherly ter publicado no “Diário de Notícias” o “Primeiro Poema Concreto”, poderá não ser, por si só, o mais significativo. O mais importante foi esse poema ter aparecido e fazer parte, a partir desse momento, da história da Poesia Experimental Portuguesa.

É também da sua autoria uma das mais conhecidas instalações da Poesia Experimental – “Ex-Posição” – apresentada durante a PO.EX.80, na galeria Nacional de Arte Moderna em Lisboa, no 1º Festival Internacional de Poesia Viva, no Museu Municipal Dr. Santos Rocha, na Figueira da Foz, e posteriormente no Museu de Serralves, no Porto. Pela ideia, pela simplicidade, e pelo arrojo daquele travessão de corda que atravessa o espaço e dá à instalação uma dimensão surpreendente.

Acho que o José-Alberto prefere saborear o agridoce das palavras, de as baralhar para descobrir dentro de um saco cheio de letras e sílabas as palavras que precisa para construir os seus poemas e romances. Sei que gosta de as degustar lentamente, sentir-lhes o cheiro, o ruído, a textura e a cor antes de as ordenar e de as alinhar (ou não), para resultarem na prosa ou no poema. Mas para mim, foi na poesia experimental que este autor conseguiu levar mais longe a sua criatividade e capacidade de inovar, de elevar – através dos jogos espaciais com que os poetas da experimentalidade gostam de trabalhar – as palavras ao expoente que faz delas uma obra de arte.

 

 

O Projeto Editorial Banda Lusófona foi criado em janeiro de 2010, como complemento ao Projeto Editorial Banda Hispânica. Assim o Jornal de Poesia integra em sua plenitude a poesia de línguas portuguesa e espanhola. Aqui registraremos criação e reflexão, reunindo autores de distintas gerações e tendências, inclusive inéditos em termos de mercado editorial impresso. Aqueles poetas que desejem participar devem remeter à coordenação geral seus dados bibliográficos, seleção de 10 poemas e resposta ao seguinte questionário:

     1. Quais são as tuas afinidades estéticas com outros poetas de língua portuguesa?
    2. Quais são as contribuições essenciais que existem na poesia que se faz em teu país que deveriam ter repercussão ou reconhecimento internacional?
     3. O que impede uma existência de relações mais estreitas entre os diversos países de língua portuguesa?

Todo este material deve ser encaminhado em um único arquivo em formato word, para o seguinte e-mail: agulha.floriano@gmail.com. Agradecemos também o envio de uma fotografia (jpg), assim como de textos críticos, livros de poesia e material jornalístico sobre o mesmo tema. O Projeto Editorial Banda Lusófona é uma fonte de informações que reflete, sobretudo, a ampla generosidade de todos aqueles que dele participam. O acesso a cada país deve ser feito através do selo correspondente.

 
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Cumplicidade expressa: Alfonso Peña, Eduardo Mosches, Gladys Mendía, José Ángel Leyva, Maria Estela Guedes, Soares Feitosa e Socorro Nunes.
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