P R O J E T O   E D I T O R I A L   B A N D A   L U S Ó F O N A

 

 

J O R N A L   D E   P O E S I A   |   F O R T A L E Z A l C E A R Á l B R A S I L
COORDENAÇÃO EDITORIAL   |   SOARES FEITOSA | FLORIANO MARTINS
2000-2010
 

 

 

BANDA LUSÓFONA | BRASIL

Dora Ferreira da Silva | (1918-2006)

Dora Ferreira da Silva: em honra da poesia

Floriano Martins

A obra poética de Dora Ferreira da Silva (1918) vinha já de muito necessitada de uma difusão mais ampla, uma vez que a mesma somente circulava em São Paulo, em livros como Menina seu mundo (1976), Talhamar (1982), Retratos da origem (1988), Poemas da estrangeira (1992) e Poemas em fuga (1997).

Temos finalmente a edição de sua Poesia reunida, que recolhe, além dos livros mencionados, Andanças (1970), Uma via de ver as coisas (1973) e Jardins (1979), além de poemas traduzidos para o alemão pelo amigo e exegeta Vilém Flusser que, ao estudo de sua poética, dedica capítulo do livro Bodenlos: eine philosophische Autobiographie (Dullseldorf, 1992).

O nome de Dora Ferreira da Silva é bastante conhecido graças à sua incansável atividade tradutória, cujos exemplos de maior fôlego constituem a Obra Completa de Carl Gustav Jung e a poesia de Rainer Marie Rilke, mas onde se incluem traduções de San Juan de la Cruz, Angelus Silesius e Saint-John Perse.

Contudo, outra particularidade de seu envolvimento com a poesia a ser mencionada é o fato de haver fundado e dirigido duas importantes revistas: Diálogo, nos anos 50, ao lado do marido, o filósofo Vicente Ferreira da Silva, e Cavalo Azul, nos anos 80 - publicações já esquecidas, mas que representaram, em seu tempo, um essencial repositório da criação e sua reflexão.

Um enorme entusiasmo pela vida tem sido a característica principal de Dora Ferreira da Silva. Em entrevista concedida a Gilberto Kujawski e Hermes Nery, em 1989, sintetiza: “Nós é que damos sentido ao tempo, e buscamos fazer o melhor nesta fração de tempo que é a nossa vida aqui”, isto a partir de uma anotação de seu marido que havia encontrado em um livro: “Entramos na história quando ela já começou, e saímos antes de ela terminar”.

Corroboração imediata com uma leitura de sua poética sugerida por Euryalo Cannabrava, quando ali destaca “a busca obstinada de um rigor que, violentando todos os cânones da linguagem prosaica, instaura sobre as suas ruínas a sintaxe lírica do poema absoluto, sem condições restritivas”.

Abordagens complementares: Cassiano Ricardo sublinhava a presença de um misticismo, “tendendo sempre para o mistério”; Ivan Junqueira salienta o convívio perfeito de ambientações “a um tempo cósmica e celebratória” em suas imagens; tudo indo desaguar em uma “expressão religiosa” percebida por Vilém Flusser.

É ele quem nos dá sua melhor tradução, ao observar que em sua poética “o símbolo não é mediação primeira entre o sujeito e coisa concreta, mas entre o sujeito e o transcendente”, concluindo que “o significado último do símbolo não é uma coisa no mundo vivo, mas o que está do outro lado dos limites do mundo vivo”.

Simbolismo e romantismo, tanto quanto a vertente enriquecida pelo surrealismo, estes são acentos indispensáveis à compreensão da poesia de Dora Ferreira da Silva, o mesmo valendo para muitos poetas de sua geração, que é a mesma de Vinicius de Moraes, Gerardo Mello Mourão e Manoel de Barros, onde merecem ainda ser recuperadas as obras de Dantas Mota e Manuel Cavalcânti.

Nos versos finais de um poema dedicado a Anaïs Nin reflete: “musa da ventania amiga dos gélidos / consumiu-te o fogo em que ardias”, sugerindo um entendimento de que devemos ser iluminados e não queimados pelo fogo que nos conduz através da escuridão perene que funda todas as coisas à nossa volta. Mergulho no risco, mas não descompasso ante os deslizes eventuais.

Aí radica a “lírica órfica” apontada por Ivan Junqueira ou a busca de um “poema perfeito” que destaca Euryalo Cannabrava. Melhor dirá a poeta ao evidenciar que “há todo um mito da noite, este anoitecer que impregna em você, e anoitece junto com você, e você sente-se em estado de graça por participar da noite no que ela tem de poético e impregnante”. A noite aludida não é senão nossa intimidade com o abismo, a revelação essencial da natureza humana, a restauração do sagrado, um risco.

Todos esses símbolos preciosos encontram-se na obra de Dora Ferreira da Silva, cujo princípio poético aponta para uma meditação constante sobre a condição humana, não sem compreendê-la como indissociável da natureza como um todo. Não se trata de uma solitária na tradição poética brasileira, desde que recuperemos muitos nomes soterrados por intenção ou displicência.

Tratemos de lê-la. A densidade de sua poética, não se diluindo ao plano das consternações ou das máximas de efeito, impõe o recolhimento natural à compreensão de toda grande poesia, cujo exemplo temos em poemas como “Garças”, “Ciclo de Teseu” e “Retratos da alma”. Dora Ferreira da Silva teve suficiente paciência para ser lida pelos brasileiros somente aos 80 anos de idade. Que os brasileiros saibam dignar-se diante de tamanha honra.

 

 

O Projeto Editorial Banda Lusófona foi criado em janeiro de 2010, como complemento ao Projeto Editorial Banda Hispânica. Assim o Jornal de Poesia integra em sua plenitude a poesia de línguas portuguesa e espanhola. Aqui registraremos criação e reflexão, reunindo autores de distintas gerações e tendências, inclusive inéditos em termos de mercado editorial impresso. Aqueles poetas que desejem participar devem remeter à coordenação geral seus dados bibliográficos, seleção de 10 poemas e resposta ao seguinte questionário:

1. Quais são as tuas afinidades estéticas com outros poetas de língua portuguesa?
2. Quais são as contribuições essenciais que existem na poesia que se faz em teu país que deveriam ter repercussão ou reconhecimento internacional?
3. O que impede uma existência de relações mais estreitas entre os diversos países de língua portuguesa?

Todo este material deve ser encaminhado em um único arquivo em formato word, para o seguinte e-mail: agulha.floriano@gmail.com. Agradecemos também o envio de uma fotografia (jpg), assim como de textos críticos, livros de poesia e material jornalístico sobre o mesmo tema. O Projeto Editorial Banda Lusófona é uma fonte de informações que reflete, sobretudo, a ampla generosidade de todos aqueles que dele participam. O acesso a cada país deve ser feito através do selo correspondente.

 
JORNAL DE POESIA ACERVO GERAL BANDA LUSÓFONA EDIÇÕES CURURU

 

Jornal de Poesia (Brasil)

 

La Otra (México)

 

Matérika (Costa Rica)

 

Blanco Móvil (México)

 

Edições Nephelibata

 

Agulha - Revista de Cultura (Brasil)

 

 
Ficha Técnica

Projeto Editorial Banda Lusófona
Janeiro de 2010 | Fortaleza, Ceará - Brasil
Coordenação geral & concepção gráfica: Floriano Martins.
Direção geral do Jornal de Poesia: Soares Feitosa.
Projetos associados: Revista La Otra (México) | Ediciones Andrómeda (Costa Rica) | Revista Blanco Móvil (México) | Edições Nephelibata (Brasil).
Cumplicidade expressa: Alfonso Peña, Camilo Prado, Eduardo Mosches, Gladys Mendía, José Ángel Leyva, Soares Feitosa e Socorro Nunes.
Contatos:
Floriano Martins bandahispanica@gmail.com | floriano.agulha@gmail.com.
Soares Feitosa: soaresfeitosa@secrel.com.br | soaresfeitosa@uol.com.br.
Agradecemos a todos pela presença diversa e ampla difusão.