Taumaturgo Vaz


Minha Madrinha

Aqui na terra, desiludido Tonto, perdido, Saio das cinzas deste vulcão, Para ouvir missa na capelinha, Lá, onde mora Minha Madrinha, Nossa Senhora da Conceição! Ao pé do nicho branco e enflorado, Ajoelhado, De olhos abertos fitos no altar, Rezo baixinho... Santa alegria! Minha Madrinha! Ave Maria! Cheia de Graça! Graça sem par! Mãe de Jesus! Flor do Carinho! Secai os cardos do meu caminho! Livrai-me do ódio de Humanidade! Da inveja torpe, da iniqüidade E da traição, Que ora andam soltos e voejando, Como de Corvos um negro bando, Sob a amplidão! Tende Piedade, doce Rainha! Minha Madrinha! Minha Madrinha! Nossa Senhora da Conceição! Olhai, oh Virgem, quantos tormentos Sofrem os justos! Quantos lamentos Soltos aos ventos! Quanta miséria! Quanto pesar! Cessai, oh Virgem, esta Agonia, Minha Madrinha! Ave Maria! Cheia de Graça, Graça sem par! Lá nos Palácios o oiro e o incenso, Risos e danças, um mundo imenso De luz e pompas, sedas e aromas, Lembrando os velhos tempos de Roma A era negra da perdição! E fora, o pranto, o frio, a fome... Tudo que é triste, fere e consome os pobres velhos e as criancinhas! Vinde por eles, Minha Madrinha! Nossa Senhora da Conceição! De olhos abertos fico rezando Fora do mundo, junto do altar, Vendo chegar o doce bando Das esperanças, — Anjos formosos, meigas crianças Rubras centelhas Dos céus descidos para o Perdão! E, como a Virgem tudo adivinha, Ri-se bondosa. Salve Rainha! Cheia de Graça! Minha Madrinha! Nossa Senhora da Conceição!


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