Raul Machado


Lágrimas de Cera

Quando Estela morreu choravam tanto! Chovia tanto nessa madrugada! — Era o pranto dos seus, casado ao pranto Da Natureza — mãe desventurada Ninguém podia ver-lhe o rosto santo, A fronte nívea, a pálpebra cerrada, Que não sentisse logo, em cada canto Dos olhos uma lágrima engastada ! Ah! ... não credes, bem sei, porque não vistes! Mas, quando ela morreu, chorava tudo! Até dois círios, lânguidos e tristes, Acendidos à sua cabeceira, Iam chorando, no seu pranto mudo, Um rosário de lágrimas de cera!


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