Paulo Véras


Oferenda

Trago nas mãos um resto da noite passada e entre os dedos o suco das estrelas que como sábias irmãs me fizeram companhia Faltou tua orelhinha de búzio onde eu escutava as marés e retirava o sal amargo com a língua em arpão Esta memória de hoje é apenas o retrato morto de um corpo com impressões digitais sobre a pele Uma lembrança que traz de volta uma dor antiga uma ferida que é uma boca de tão aberta E este peito está tão cinzento que chego a pensar que chove nas vísceras


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