Hardi Filho


É tarde / é cedo

é tarde, o sol declina no horizonte, os pássaros procuram o arvoredo, desde ontem juntos, tenho de ir embora mas meu amor sugere que ainda é cedo. — é tarde, eu digo, a noite vai vestir o manto que acoberta o seu segredo; já nos amamos o bastante, amor. e meu amor me diz: — amor, é cedo. retruco: é tarde, as sombras mais se adensam e os caminhos, escuros, causam medo. — isso mesmo, — diz ela me beijando — espera amanhecer... amanhã cedo... ela é divina! eu sou feliz! atendo ao seu convite e aos seus carinhos cedo: mais momentos de amor então gozamos; até que, de repente acordo, é cedo? é tarde? a claridade de outro dia, para nós dois, severa, aponta o dedo. vou levantar, ela também acorda, me abraça, e fala, insiste que inda é cedo. — é tarde, eu mostro, há luz em toda a alcova, impondo fim ao nosso doce enredo. — não! — ela diz — isto é clarão da lua... amor, não vá, ainda é muito cedo!


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