Domingos do Nascimento


Meu Lar!

Eu sou da terra dos lírios bravos Que pendem a haste por sobre o mar. Por entre lírios vermelham cravos... Branco e vermelho... fico a cismar! Fico a cismar nos lírios e nos cravos Que pendem a haste por sobre o mar. Minha casita branca de neve, Com telhas rubras, era um primor. Minha casita que encantos teve... Hoje tapera, sem riso ou flor! Fico a cismar na graça que já teve... Com telhas rubras, era um primor! Olha as moçoilas subindo os montes, Chapéu de palha, saiote curto! Belas morenas descendo às fontes, Bilhas à coifa, pezinho a furto... Fico a cismar nas moças lá dos montes, Chapéu de palha, saiote curto. E a minha dama era alva de neve, De lábios rubros, botão de flor. A minha dama que olhos já teve, Escrava agora de outro senhor! Fico a cismar nos olhos que já teve, De lábios rubros, botão de flor. Eu sou da terra dos brancos lírios, Dos lindos mares, bravos, chorosos... No céu escuro crepitam círios, E os ventos gemem, tristes, saudosos! Fico a cismar que velam tantos círios Os lindos mares, bravos, chorosos... A dor eterna seja contigo, Coração fiel, mar tormentoso Meu companheiro, meu velho amigo! Quando te sinto soberbo e iroso, Fico a cismar em ti, que estás comigo. Coração fiel, mar tormentoso Eu sou da terra dos liriais... ... Branca de neve... seios de amora... — Que lindo rastro nos areais! A noite foge, resplende a aurora... Fico a cismar por sobre os areais: — Branca de neve... seios de amora... O mar soluça beijando a praia... — Não mais te beijo, botão de flor, A onda ruge, a onda desmaia... Gemo... Saudades de tanto amor! Fico a cismar se aquela flor desmaia... ... Não mais te beijo, botão de flor!


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